quinta-feira, 31 de agosto de 2006

nem sei que faça... (foto de Eric kellerman)

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

(foto de Wind)

o jantar
todos os anos era aquele aborrecimento. tentava sempre arranjar maneira de se esquivar àquele cansativo, enfadonho encontro, mas o joão não aceitava. vinha logo com a conversa de não ser conveniente aparecer sozinho. que os outros sócios iriam pensar que havia algum problema entre eles. e que depois, no escritório, começariam os comentários irónicos.
tão cansativo era ter de ir ao tal jantar como ouvir a argumentação do joão, por isso, nem insistia e lá se arranjava para o compromisso. afinal seria apenas e tão só outra noite.
maçadora, mas outra noite.
desta vez desconhecia o local. pelo menos teria a oportunidade de se ir distraindo com a decoração. e com tanta coisa para fazer. perda de tempo!
cedências numa relação que se mantinha equilibrada, ainda assim. abriu a janela do carro, já em movimento, e olhou de soslaio para o joão. sorriu: amava aquele homem.
chegados ao restaurante, foram recebidos numa ante sala onde estavam quase todos. distribuiu sorrisos, alguns beijos, e pequenas frases feitas trocadas...
entretanto, foram chamados para a sala de jantar.
a decoração era excelente. as cores discretas, quentes. a iluminação fantástica. sentou-se e não pôde deixar de sorrir. afinal até se estava a sentir confortável. começaram a ser servidos e, ao som dum piano distante, ouviam-se pequenas gargalhadas, sussurros de conversas...
o joão tocou nas suas mãos, num gesto terno e cúmplice.
a dada altura, discretamente, conseguiu conquistar algum silêncio, alheando-se das conversas dos outros, e olhou para o tecto...
os seus olhos ficaram cativos do candelabro. semicerrou-os e deixou-se embalar pelo som cada vez mais longínquo do piano...descia, agora, uma escadaria enorme. ao fundo, do lado esquerdo, uma porta: o princípio de um salão vazio de pessoas, onde existia somente o candelabro e alguém que a esperava à entrada.
deixou-se conduzir até ao centro e, em sintonia com a melodia que viajava por aquele espaço, os corpos deslizaram pelo salão harmoniosamente.
e, quando a música...tocaram-lhe no ombro. era o joão que a chamava. alguém queria saber qualquer coisa. respondeu e fechou, de novo, os olhos. mas o momento anterior terminara.
perdera-o.
...então,
a modos que nos tentamos distrair
com qualquer coisita...(...daí)
e, de repente, a preguiça deixou de ser pecado...
era um caracol.
paulatinamente, deslizava, sussurrando:
- ok. eu vou-me embora.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

pecadora preguiçosa me confesso, hoje.

"Preguiça" (detalhe da "Mesa dos pecados capitais" - H. Bosch)


"*Preguiça é a inactividade de uma pessoa, aversão a qualquer tipo de trabalho ou esforço físico.

A preguiça é também um dos sete pecados capitais , caracterizado pela pessoa que vive em estado de falta de capricho, de esmero, negligência, desleixo, falta de pressa ou de empenho, morosidade, lentidão e moleza, de causa orgânica ou psíquica , que a leva à inatividade acentuada.

Aversão ao trabalho, frequentemente associada ao ócio, vadiagem.

Uma pessoa preguiçosa é erroneamente e facilmente confundida com uma pessoa acomodada e vice-versa.

Ela anda bem devagar e nada pertuba o seu sossego."

(*in wikipedia)

"a minha cor de mente..."




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(...)
Ei-los de regresso, os meus hóspedes, os meus familiares. Já está reparada a brecha aberta nas minhas defesas pelo admirável golpe de espada de Neville. Volto a ser eu próprio e rejubilo trazendo à cena tudo aquilo que Neville ignora de mim. Olhando através das janelas e afastando as cortinas, digo para mim mesmo: «Aquilo que estou a ver não lhe daria prazer, mas a mim enche-me de alegria» (servimo-nos dos nossos amigos para nos avaliarmos a nós próprios). A minha vista abrange aquilo que Neville jamais alcançará. Na estrada gritam canções de caça. Celebram alguma corrida de cães. Os rapazinhos de barretes na cabeça que se voltavam todos ao mesmo tempo quando a carruagem dobrava a esquina, dão palmadas nas costas e gabam-se das suas proezas. Mas Neville, evitando cuidadosamente qualquer contacto, furtivo como um conspirador, regressa apressadamente ao seu quarto. Vejo-o afundar-se na poltrona baixa e contemplar o fogo que por um momento assume a aparência da solidez arquitectural. «Se a vida, pensa ele, pudesse manter esta ordem, esta permanência» - pois acima de tudo ele deseja a ordem e detesta o meu desmazelo byroniano. Por isso corre a cortina e fecha a porta à chave. Os seus olhos enchem-se de desejo e lágrimas (porque ele ama; a figura sinistra do amor presidiu ao nosso encontro). Agarra o atiçador de um golpe destrói a momentânea solidez do edifício de carvão incandescente. Tudo se modifica. Tudo passa, a juventude e o amor. O barco que flutuava sobre a abóbada de salgueiros passa agora debaixo da ponte. Percival, Tony, Archie ou outro qualquer partirão para a Índia. Não nos voltaremos a ver. E Neville estende a mão para o caderno - um belo volume encadernado com papel mosqueado - e febrilmente escreve longos versos com o estilo do poeta que de momento mais admira.

Eu prefiro vaguear, debruçar-me à janela, escutar. Volto a ouvir o alegre coro dos rapazes. Agora estão a partir louça, uma tradicional manisfestação de alegria. O coro é como as águas de uma corrente escalando as rochas, tomando de assalto as velhas árvores e precipitando-se no fundo dos abismos com um abandono magnífico. (pág. 74)


(in As Ondas - Relógio d'Água - de Virginia Woolf)

segunda-feira, 28 de agosto de 2006


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(...) Indolentemente deitado, sonolento mas atento, contemplava extasiado os jogadores de cricket, enquanto o seu espírito, rápido, veloz, hábil e voraz como a língua de um camaleão, percorria todos os contornos das frases latinas, sem por isso deixar de desejar que a pessoa amada, a única pessoa amada, viesse sentar-se a seu lado. (pág.197)
(...)Gosto de ver as coisas sob o seu aspecto abundante, informal e superficial, não muito inteligente, mas extremamente fácil e um tanto áspero. Gosto de ouvir as conversas dos homens reunidos nos clubes e nos bares; das palavras trocadas por mineiros seminus; gosto da gente completamente isenta de pretensões, sem outra finalidade na vida além do jantar, do amor, do dinheiro e de uma existência tolerável, gente que não tem grandes esperanças, ideais ou qualquer coisa do género e cuja única ambição é desembaraçar-se sem grandes aborrecimentos. (pág. 198)
(...)Susan nasceu para ser admirada pelos poetas, pois os poetas necessitam da segurança; de uma mulher que permaneça sentada a costurar, que ame e odeie apaixonadamente, não seja particularmente rica ou confortável e se harmonize pelas suas qualidades com a simples e elevada beleza, o estilo que os poetas tanto admiram. (pág. 199)


(extractos de As Ondas - Relógio d'Água - de Virginia Woolf)
olha...o domingo já acabou! (...daí)

domingo, 27 de agosto de 2006

quando mais nada existe... (foto de William Ropp)
céu, azul. sol, luz. sorrisos, muitos. e flores. que haja flores.




(as flores foram colhidas por ...)

sonhos cor-de-rosa.
até amanhã.
(foto de Marina Cano)

sábado, 26 de agosto de 2006

yes!
é sábado.
vamos curtir!(...daí)

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

as distâncias ficam sempre tão longe... (...daí)
que
assim sejam
as janelas do fim-de-semana.(...daí)

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

os restantes que me desculpem,
mas eu gosto deste homem! (...daí)
(foto: à espreita de DIAFRAGMA)
àquela hora
teve vergonha. foi para dentro. era uma menina. olhos e cabelos pretos, nariz arrebitado, franzina. todos os dias, àquela hora, vinha regar as plantas.
naquele dia ainda tinha de ir a casa da avó...e aqueles senhores agora, ali, com uma máquina esquisita apontada para ela.
que disparate de tempo perdido. que estariam eles a fazer ali?!... - perguntava em silêncio.
àquela hora não estava ninguém em casa. todos tinham ido trabalhar. só ela ali ficava. e a avó já devia estar à sua espera, mas ainda tinha de acabar de regar as plantas.
espreitou de novo. já se tinham ido embora. estavam mesmo ao fundo da rua, quase a desaparecer.
deitou, então, a água nas plantas, afagou-as com os seus deditos delicados e, fazendo aquele trejeito com o nariz que lhe era tão peculiar, foi buscar a cesta onde estava o lanche da avó. gostava de ir ver a avó. contava-lhe sempre histórias. daquelas que já não vinham nos livros.
desceu as escadas entoando a música da canção que ouvira nessa manhã na rádio. era bonita. tinha gostado.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006






vamos deixar que as velas esmoreçam lentamente...

melancolias vespertinas... (...daí)
irradiando felicidade! (in Record online)

terça-feira, 22 de agosto de 2006


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alma mater




"A mãe morrera, num Outono, quando ele frequentava o sexto ano. Tinha uma ideia vaga do dia em que chegara a Cerromaior e do funeral. O que mais recordava era a porta tapada de pobres e a velha Maria Biscoita a forçar a entrada. Apesar das tentativas para dissuadi-la, foi sentar-se, no chão, aos pés da cama. Aí rompeu numa lamúria, baloiçando o tronco ao de leve. Debaixo dos cobertores, o corpo da morta quase não fazia vulto.

Depois, os pobres encheram as ruas até ao cemitério do Castelo. Ninguém conseguia afastar Joaquim Mónico de ao pé do caixão. Nada dizia, obstinado, furtando o corpo a todos que tentavam afastá-lo. Rasgado e descalço, destacava-se no meio dos senhores da vila."
(...)
A morte do pai estava mais presente. Com o tempo, Adriano confundia ambas na mesma saudade."
(...)
"A cabeça vogava-lhe como num pesadelo. Lenta e insensivelmente, no escuro da cela, uma suve presença insinuou-se. Alvoraçado, o coração bateu-lhe. Era a sonhada presença da mãe. Amorosa presença que lhe derramava ternura pelos membros cansados. Sentiu um novo alento. Puro e sem pecados, o coração batia-lhe. Ergueu-se. Ia caminhar, tinha ainda forças para caminhar. Visíveis, à sua volta, os pobres que tapavam o portão do quintal, Doninha, Zé da Água, Tóino Revel, Bia Rosa, Inácia, Antoninha, Maltês e os ceifeiros da Fonte Velha seguiam-no. Ao lado, passo a passo, a mãe ia também - nem ele sabia por onde, mas tinha a certeza que era para uma planície de fartura e paz."



(excertos de Cerromaior, Manuel da Fonseca)
entro ou não?
está escuro.
tenho medo. (in PBase)
não! (...daí)

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

post a "quatro" mãos

juntei as palavras dos comentários do post de ontem, domingo, 20 de agosto, em http://leilaodepensamentos.blogspot.com/ e resultou este texto.
um texto feito a várias mãos, espontaneamente, mas muito interessante.
"Na plenitude da felicidade, cada dia é uma vida inteira." - Goethe
(...)
cada minuto...
segundo...
cada ai, cada olhar, cada passo...
gesto...
respirar: cada pausa.
Eternidade surrealista...
a estátua!
(diafragma, rosalina, tb, wind)
por hoje é tudo.
obrigada. até amanhã. (...daí)

domingo, 20 de agosto de 2006

ok. eu entro.(...daí)
ora bem, o espaço já está definido. encontrei-o por aí, perdido no meio de folhas pintalgadas de vermelho.
faltam, agora, as personagens.
ela, uma princesa. alta, elegante, distante, de olhos azuis profundos e brilho misterioso. cabelos loiros, compridos, de pescoço esguio e sensual.
os trajes, verdes.
ele deverá ser nobre, mas feroz defensor dos pobres, liderando as hostes que tentam derrotar o soberano algoz que espalha o terror pelas aldeias, queimando casas e dizimando colheitas.
talvez moreno de fortes olhos negros, com traços rebledes, cabelo crespo.
ou não. logo se verá.
o tempo surgirá no momento em que as primeiras letras forem escritas: "era uma vez..."
a acção: uma incógnita. o princípio ainda está por desvendar.
(imagem daí)
já tenho os macacos à porta.
é domingo.
(...daí)

sábado, 19 de agosto de 2006

o dia hoje está assim: sossegado, num claro apelo ao descanso, ao abandono das coisas importantes, ao usufruto do momento, apenas.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

outras maneiras
haverá de começar um fim-de-semana.
não se descure esta.
boa noite.(...daí)
em dias de nuvens brancas que bailam no céu,
dance-se na varanda.
uma sugestão. (...daí)

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excerto da carta de Carlos a Joaninha (Capítulo XLIV)




Há três espécies de mulheres neste mundo: a mulher que se admira, a mulher que se deseja, a mulher que se ama.

A beleza, o espírito, a graça, os dotes de alma e do corpo geram a admiração.

Certas formas, certo ar voluptuoso criam o desejo.

O que produz o amor não se sabe; é isto às vezes, é mais do que isto, não é nada disto.

Não sei o que é; mas sei que se pode admirar uma mulher sem a desejar, que se pode desejar sem a amar.

O amor não está definido, nem o pode ser nunca. O amor verdadeiro; que as outras coisas não são isso.





(in Viagens na Minha Terra de Almeida Garrett)

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

(Moment Before the Kiss de Rabi Khan)

Bésame, bésame mucho,
Como si fuera esta noche
La última vez.

Bésame, bésame mucho,
Que tengo miedo a perderte
Perderte después.

Quiero tenerte muy cerca,
Mirarme en tus ojos,
Y estar junto a tí.

Piensa que tal vez mañana,
Estaré muy lejos,
Muy lejos de aquí.

Bésame, bésame mucho,
Que tengo miedo a perderte
Perderte después.


(Consuelo Velazquez)

colhi esta!

gritante.
cheia de vida.
feliz!
fui ao jardim colher flores. já venho.

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

escrita quase invisível.

D_________________________,________________
_______________.E__________________________
______________________:____________________
______"________"______________.P____________
___________________? R_____________________
_______________________?!...Ó________________
______________________________________. V__ -
___________________. A______________________
_________________, ________________,_________
______________________.J________,_________,__
_________,__________,_____________.L_________
____________________;_______________________
________;__________,_____________.H__________
___________________,_________________.F______
_________!E_________________________________.
tira-se a máscara...fica o rosto!


(imagens de Miguel Ângelo e Helmar Lerski)

durante anos
achei que tinha um nome complicado.
depois, fui-me habituando......imaginem se tivesse nascido no japão!!!

terça-feira, 15 de agosto de 2006

...a gargalhada teimosa
que não quis ficar em baixo!
e que tal
uma dose de afectos
para o fim da tarde?... (...daí)

O CHALÉ ELEITO

as escadas, um convite para uma porta que não se vê.
a árvore que, comodamente, me recebe.
cadeiras quase escondidas num sossego aconchegante.
e tudo o que não se vê, mas que pode ser descoberto.

desafio aos leitores mais atentos.

ora bem...e qual seria o meu eleito? conseguem descobrir?
chalé das estrelas

chalé da lua

chalé cristal

chalé cascata
(imagens daí)