quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

avô
queria chorar...apetecia-lhe lavar os olhos com lágrimas. há tanto tempo que não o fazia. a última vez tinha sido quando o avô morrera. que dor. fora a primeira vez que sentira, deveras, a dor da perda. eram tantas as saudades que já tinha...e ainda há poucas horas ele partira.
ia a caminho do trabalho, quando a mãe, com a voz embargada de dor, lhe telefonara a dizer o que tinha acontecido: "rosi...o avô morreu." rapidamente a estrada deixou de estar nítida. as curvas deixaram de existir...e a memória de outros tempos percorreu-lhe o corpo.
tinham sido tantas as palavras, os momentos partilhados. não queria que o avô tivesse morrido. por isso fingiu, durante breve segundos, que aquele telefonema não tinha acontecido. e continou a ouvir a rfm. depois, como uma vaga...teve de parar. as mãos tremiam. os olhos não deixavam de chorar. teve de parar o carro.
saiu. gritou. quis voltar atrás no tempo e abraçar o avô. tantas vezes, quantas as que fossem necessárias para que ele se sentisse confortável.
que dor.
que solidão.
que angústia.
e as lágrimas caíram, outra vez.
9 de janeiro de 2006

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007


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Os entretenimentos dos pretendentes

Entregaram-se então à dança e ao canto deleitoso,
e assim gozavam, à espera que anoitecesse.
E ainda neste gozo os achou a tarde umbrosa.


(Odisseia, XVIII, 304-306,

trad. de Maria Helena da Rocha Pereira)


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belo seria, se todas as esperas assim fossem: deleitosas...

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007






a minha liberdade perde-se na tua.

sempre. os dias. as horas. as esperas. as vontades.

e a noite que chega e, cansada, adormece nos teus braços, esquecidos de mim.

assim.


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- Mas aqui, neste momento, estamos juntos, disse Bernard. Reunimo-nos neste instante e neste local. Fomos atraídos por qualquer profunda emoção comum. Será correcto chamar-lhe amor? Devemos chamar-lhe amor a Percivel, porque Percivel vai partir para a Índia?

- Não, a palavra é demasiado pequena, demasiado particular. Uma tão pequena etiqueta não pode cobrir a extensão dos nossos sentimentos. Viemos do Norte e do Sul, da quinta de Susan e da casa comercial de Louis, para realizar qualquer coisa que nada tem de perdurável (mas o que é afinal perdurável?), que é apenas visível para nós durante este momento em que as nossas vidas se confundem. Há um cravo vermelho nesta jarra. Enquanto aqui estivemos à espera era uma simples flor.

Mas agora é uma flor heptagonal, uma flor de mil pétalas, vermelha, acastanhada, sombreada de roxo, uma flor com rígidas folhas de prata. E a esta flor total cada um dos nossos olhares acrescenta um atributo.

de Virgina Woolf, in As Ondas,
pág. 102, Relógio d'Água

domingo, 25 de fevereiro de 2007

nota final...
Beleza continua
Rosiane
estrela e lua ou lua...









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(tela: Evening Star, de Franz von Stuck

// foto de Zab )




Almada Negreiros - o artista completo






Fechemos os olhos e façamos uma viagem ao passado. Viajemos até à nossa infância e brinquemos, outra vez, com os nossos sonhos...

Depois de subir o pano, ouve-se um tambor que se vai afastando. Quando já mal se ouve o tambor, o Boneco levanta-se, e vai espreitar ao fundo para fora. Entretanto, a Boneca senta-se e está admirada de ver o Boneco a andar. Quando o Boneco volta para o lugar, fica admirado de ver a Boneca sentada a olhar para ele.
É desta forma que inicia o texto dramático Antes de Começar de Almada Negreiros. É desta forma que nós podemos partilhar com aquelas duas personagens, o Boneco e a Boneca, um sonho: sentir que os nossos brinquedos podem ganhar vida, podem falar, sentir.
Ao longo de uma cena apenas, Almada Negreiros faz falar os sentimentos simples, as certezas e incertezas do coração, faz-nos, em suma, reflectir sobre aquilo que somos, como pensamos e sentimos. Podemos encontrar neste texto frases tão singelas como estas: Ah!...Eu sou como as crianças...só sei o do que já aconteceu comigo!...; O que uma pessoa é por fora é igual ao que é por dentro! É uma coisa só...; A quem não acredita no coração tudo serve de engano.
Este texto - Antes de Começar - é, habitualmente, lido no 8º Ano a Língua Portuguesa. É nessa altura, também, que os alunos tomam conhecimento da versatilidade de Almada Negreiros - artista plástico, poeta, ensaísta, romancista, dramaturgo e coreógrafo -, nascido em São Tomé e Príncipe, no dia 7 de Abril de 1893. Veio para Portugal ainda criança, tendo feito os estudos em Lisboa e Coimbra.
Pertenceu ao grupo Orpheu com Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.
Redigiu alguns dos mais provocativos manifestos futuristas, conferências e textos doutrinários, podendo mesmo dizer-se que desde 1910 teve intervenção em quase todas as manifestações realizadas em Portugal com o fim de desenvolver uma nova orientação para a produção artística, procurando colocá-la num rumo diferente e na linha de renovação que igualava em idênticas inquietações todos os países animados pelo espírito europeu.
A sua obra literária permaneceu praticamente dispersa, até ao fim da sua vida, em revistas.
Morreu em 1970, em Lisboa, com 77 anos de idade.
Sobre ele disse Maria José Mauperrin no Expresso (3/4/93), aquando da comemoração do centenário do seu nascimento: Almada Negreiros nasceu há cem anos. Homem de variados talentos, deles se serviu para exprimir a sua raiva contra os imobilismo. Inconformado com o tempo em que viveu, lutou sempre para ir além dele. No desenho como na dança, no romance como no poema. Almada não precisa de efemérides para ser lembrado. Almada é. Almada está.
São dele, do poeta, do dramaturgo, romancista...as palavras que se seguem. Nessa quase assustadora consciência daquilo que deva ser a precaridade da vida humana, poderá estar, quiçá, a justificação para uma obra tão versátil:
Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida não chegam, não duro nem para metade dos livros. Deve haver certamente outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido.




sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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espreitando o fim-de-semana...

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

nota final...
an old fan
Jia Tian Shi

Hoje, às 9:59:39, o Carpe Diem foi visitado por um click de Tavagnacco . Trata-se de comuna italiana da região do Friuli-Venezia Giulia, província de Udine, com cerca de 12.371 habitantes.
As origens desta comuna remontam a 1258, data da primeira referência escrita onde consta - a investidura concedida pelo patriarca de Aquileia, Gregorio di Montelongo, a Peter di Attimis.

Outros aspectos, e para quem saiba italiano, por aqui e, ainda,

aqui .

a menina solitária
era uma vez uma menina. vivia sozinha. todos os dias se levantava para ir dar de comer aos animais da quinta. era ela que tratava dos bichos, da horta e da casa.
um dia, passou pelo portão um menino. parou e vendo-a regar as flores, perguntou-lhe se vivia sozinha. ela respondeu-lhe afirmativamente e ele, então, quis saber porquê. tinha gostado dela e queria ser seu amigo. ela sorriu, baixou os olhos e continuou a regar as flores.
durante um mês continuaram a aparecer mais meninos que repetiam sempre a mesma pergunta. e a menina dava sempre a mesma resposta. então, quando já não havia mais meninos...quando veio o último menino, a menina olhou para ele e já não sorriu. aproximou-se e disse:
- estou sozinha porque quero. escolhi viver assim. podia estar acompanhada, mas não quero. tenho amigos e, no entanto, eles não me perguntam porque vivo sozinha. aceitam-me como sou. estamos muitas vezes juntos, mas, à noite, cada um vai para a sua casa e se nos queremos rir, conversar ou precisamos de ajuda, encontramo-nos sempre. somos amigos.
(inventado no dia 4 de Janeiro de 2006)

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

olhar de quem já perdeu.
Archangel
Thomas Groth
Segundo a prática corrente, existe a cor, o doce, o amargo; na realidade, o que exsiste são atómos e vácuo. [Então os sentidos dizem para a inteligência]: «Pobre espírito, foi de nós que recebeste o testemunho, e agora queres derrubar-nos? Se o fizeres, será a tua queda.»
Demócrito
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e a inteligência saberá, decerto, que precisa dos sentidos.
terão disso consciência os sentidos?

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

nota final...
Entrance of dragon
Wojtek Kwiatkowski

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NÃO SE DEVIA DIZER, MAS...




Sexta-feira (13) treuze!
Pois é, quantas vezes não ouvimos na rua, na rádio, televisão e até na escola a pronúncia do número do azar como se encontra em epígrafe?!...


É frequente. No entanto, o alongamento da primeira sílaba treze - em ditongo (treuze) é um desvio à norma.


António Marques, em Tento na Língua, justifica a provável existência desse desvio por razões etimológicas, mas o próprio concluiu:

Será aceitável esta razão etimológica? Poderia ser...Mas razão etimológica não é justificação para o desvio, porque todos nós aprendemos na escola (ou não?!...) as normas vigentes. E a norma de 13 – nível oral e escrito é treze, sem ditongo...De qualquer modo, respeitamos o que parece ser um regionalismo, como tantos outros regionalismos que merecem respeito...”(in Tento na Língua, pág. 21)


- ...assim. quieta. presa a mim.

e o silêncio invadiu a sala. apenas a respiração dos dois. ficaram parados num espaço longínquo esquecidos do dia que se consumia.


respirar...todos os dias.
assim.

o sol.
a luz. o azul.

ter uma janela guardada para os outros dias. aqueles que demoram a passar e que desejamos céleres.

porque o tempo tem de ser nosso.

assim.
sereno e quente.







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Para realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro de árvores a janela meia aberta de uma habitação antiga mas não delapidada - com certo ar de conforto grosseiro, e carregada na cor pelo tempo e pelos vendavais do sul a que está exposta. A janela é larga e baixa; parece mais ornada e também mais antiga que o resto do edifício que todavia mal se vê...
Interessou-me aquela janela...
Quem terá o bom gosto e a fortuna de morar ali?
Parei e pus-me a namorar a janela.
Encantava-me, tinha-me ali como num feitiço.
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Almeida Garrett, Viagens Na Minha Terra





domingo, 18 de fevereiro de 2007

águas que continuam...
(foto: Tavira, de Ana P.
// tela: Evening at venice, de Shang Ding)



E pelas visitas fiquei a saber que Běijīng é Pequim...
Ok.
Pequim (北京; em pinyin Běijīng) é uma cidade chinesa, capital da República Popular da China, cujo nome significa Capital do Norte.
Durante séculos, foi a maior cidade do mundo; hoje tem cerca de 10,3 milhões de habitantes. Situada ao norte do país, Pequim é famosa pela Cidade Proibida, o palácio dos imperadores chineses desde o século XV.

Foi capital do Império Chinês de 1421 a 1911.
Em 1912 a capital foi transferida para Nanquim e a cidade tomou o nome de Beiping (Wade-Gilles: Peiping) (Paz do Norte); foi ocupada pelos japoneses entre 1937 e 1945.

Tornou-se a capital da república em 1949 com o nome actual.

Continua aqui.


Sebastião da Gama – o professor poeta

O Poeta beija tudo, graças a Deus...E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade...E diz assim: «É preciso saber olhar...». E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos...E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás...E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha...E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso...E acha que tudo é importante...E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim...e reparou que os homens estavam tristes...E escreveu uns versos que começam desta maneira: «O segredo é amar...» - in Diário, 1962
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E quantas vezes não recorremos às palavras dos outros para traduzir os nossos pensamentos.
Hoje fomos em busca de uma voz que nos falasse de poesia, mas também desta arte que é saber ser professor.
Encontrámos as palavras de Sebastião da Gama, poeta português em cuja obra encontramos uma poesia de laivos românticos, mas também textos que testemunham a sua experiência enquanto docente e que, de acordo com Jacinto do Prado Coelho, são, “sem dúvida, um dos mais impressionantes documentos escritos em Portugal na primeira metade do século XX – documento sobre a maneira como concebia o ensino e a vida, alguém para quem dar uma aula mal se distinguia de criar um poema.”
De facto, se atentarmos no texto em epígrafe que fala do que é ser poeta e enumerarmos apenas as expressões em Bold, verificaremos que traduzem também, no geral, as funções de um professor na escola de hoje. Senão vejamos:

É preciso saber olhar;
perde tempo (ganha tempo...);
comove-se com coisas de nada;
E acha que tudo é importante...

Porque não reflectir sobre estas questões?...

E neste percurso de memórias e pensamentos podemos lembrar que Sebastião da Gama, nascido no ano de 1924, em Vila Nogueira de Azeitão, concluiu o Curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947, ano em que, também, iniciou a sua actividade de professor.
Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949).

Literariamente, não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática – amor à natureza, ao ser humano – e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos.

A simplicidade dos seus textos e a limpidez das palavras poderiam se explicadas pela proximidade desde cedo da morte. Sebastião da Gama faleceu aos 28 anos vítima de tuberculose, doença que lhe foi diagnosticada na sua juventude e, apesar da injustiça de morte tão precoce, não encontramos nos seus textos qualquer raiva, apenas as palavras puras.

A terminar esta breve referência a um poeta que nos faz lembrar os aedos (poetas) gregos que muito ensinavam, deixamos aqui registado um poema que nos faz lembrar “A Liberdade” de Fernando Pessoa:

Agora sim, que fechei o livro de Poesia.
O Sol deixou de ser uma metáfora para ser o Sol.
Os sentimentos deixaram de ser apenas palavras.
Tudo é de verdade, agora que fechei o livro de Poesia
e olhei de frente quanto existe.

Porque diabo me ensinaram a ler?
(Se não soubesse ler nem sequer fechava o livro
insatisfeito porque o não tinha aberto.)
Porque me não deixaram sempre agreste e criança?
As minhas leituras seriam todas fora dos livros.

Havia de olhar para tudo com uma alegria tão grande,
com uma virgindade tão grande,
que até Deus sorriria
contente de ter feito o Mundo
...

sábado, 17 de fevereiro de 2007

nota final...
Equipamento
António Abagorro

Palavras que me fazem pensar...

SORTIDO DE TEXTOS

Viver num país em guerra

Existem países onde eu não gostava de estar ou de viver, principalmente naqueles em que há guerra.Nesses países, as pessoas vivem em constante medo das bombas, atentados...As pessoas vivem com imensas dificuldades.Nesses países as pessoas passam fome, pois, por causa da guerra, deixam de trabalhar e cultivar alimentos; deixam de ter roupas para se vestirem e se agasalharem. Têm de andar sempre a fugir de um lado para o outro.
Eu vejo muitas vezes na televisão a miséria da guerra; as crianças feridas gravemente, sem culpa alguma e muitas ficam desgraçadas para o resto da vida, sem pernas, braços...Uma das coisas de que eu mais gostava era que todas as pessoas pudessem viver em paz.
Para mim isso seria o melhor que podia acontecer ao Mundo.
Ninguém gosta de viver num mundo em guerra.

Marli Vitorino
(2003 / 2004)
Ela

O dia é preto, e estou a pensar, porque é que estou aqui, quando não quero, depois respondo à minha própria pergunta:eu, aqui...porque tenho de estar.
Há uma pessoa que sempre esteve comigo.
Agora é a última vez que posso estar com ela, devo estar, goste, ou não...Estou a olhar para baixo...E estou a ver o quanto ela me ajudou.
Eu também posso ajudar: esta vai ser a última vez que a vejo.
Estou a lembrar o passado...Esta é a última vez que posso ver a sua cara. E tenho medo...Eu tinha medo da morte e ela ajudou-me a aceitá-la.
Agora está na hora de me lembrar do que ela me ensinou.
Aceitar como ela me ensinou.
Aceito o fechar do caixão, e vou continuar a minha vida com as memórias e as história dela.

Amanda
(2003/04)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

é isso mesmo:
sexta-feira,
sábado e...




...domingo!














quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

nota final...
David Levinthal
lembro-me vagamente da casa...passava por lá todas as tardes e, no entanto, das suas formas ficou-me apenas uma névoa esverdeada.
mas lembro-me, perfeitamente, da sala. particularmente daquele recanto onde todas as tardes os livros ganhavam vida e as letras me embalavam as vontades de sonhar.
entre mim e a realidade, uma cortina.
um vidro.
a fantasia.
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(fotos de Diafragma)

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por Karen Blixen, África Minha,

pág. 161, Colec. Mil Folhas, Público



Eu continuava a cavalo enquanto ele falava comigo, a fim de acentuar que não se tratava de um convidado, pois não me apetecia tê-lo a jantar comigo. Mas à medida que ele ia falando, vi que não esperava ser convidado, pois não tinha fé na minha hospitalidade nem no seu poder de persuasão, e que era uma figura solitária ali no escuro, à porta da minha casa, um homem sem um amigo que fosse. Os seus modos calorosos destinavam-se não a salvar a sua própria face, o que estava fora de questão, mas a minha, pois se agora o mandasse embora isso não seria uma falta de gentileza da minha parte, mas qualquer coisa de justo. Na sua atitude havia a cortesia de uma animal acossado. Chamei o meu Sice para levar o pónei e desmontei.

- Entre, Emmanuelson - disse-lhe. - Pode jantar aqui e passar cá a noite.


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o constrangimento que os outros nos fazem sentir tantas vezes altera, outras tantas, as nossas decisões.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

nota final...
A moça do lenço vermelho
Xenia
a oportunidade
era cedo...o sol ainda não tinha acordado.
as nuvens estavam fechadas. aquele ia ser outro dia de solidão.
o homem levantou-se. brevemente apareceria o dono do café em cuja entrada, habitualmente, pernoitava. era um sítio agradável, apesar de tudo. claro que não se comparava ao quarto que durante tantos anos partilhara com a mulher...mas disso não se queria lembrar!!!!!!
e, no entanto, eram essas as recordações que ainda o faziam acordar todos os dias. ainda tinha a esperança de um dia poder voltar a mergulhar naqueles lençóis perfumados...e os filhos...ainda por cima naquela época. o natal. as ruas estavam iluminadas. ouviam-se cânticos natalícios...já cheirava a família.
que saudades.
mas tinha vergonha.
faltava-lhe a coragem de voltar a casa.de mostrar aos seus filhos que tinha falhado.
era um falhado.
agora aquele era só outro dia.
e o homem do café que ainda não tinha chegado.
estava atrasado. será que lhe tinha acontecido alguma coisa!!!!??....talvez a mulher tivesse à sua espera...porque não telefonava!!??
não.
a sua vida agora era ali.
já não tinha forças.
deixara a oportunidade de uma vida feliz ao lado da sua vida.
- olha...lá vinha o dono do café. sempre ia ter o leite com chocolate e o pão com manteiga.
o dono da café até era simpático.
o sol começava a querer passar por entre as nuvens. iria ser um dia menos cinzento que os outros?!...

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

nota final...
Bamboo in the Rain
Catherine Hebert

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NÃO SE DEVIA DIZER, MAS...


A maior parte deles já não vai à fábrica!, Bernardo Santareno


Há quem, eventualmente, discuta se a frase acima transcrita estará ou não correcta.

Para muitos, provavelmente, dever-se-ia dizer: A maior parte deles já não vão à fábrica, devendo por isso considerar-se errada a frase de Bernardo Santareno.


No entanto, temos de aceitar como certas ambas as frases.

De acordo com Celso Cunha e Luís Lindley Cintra (in Nova Gramática do Português Contemporâneo, pág. 496), “Quando o sujeito é constituído por uma expressão partitiva (como: parte de, uma porção de, o grosso de, o resto de, metade de e equivalentes) e um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ir para o singular ou para o plural.”

Ainda na opinião dos mesmos linguistas, cada uma das possibilidades (a maior parte deles já não vai à fábrica ou a maior parte deles já não vão à fábrica) traduz diferentes matizes: “Deixamos o verbo no singular quando queremos destacar o conjunto como unidade. Levamos o verbo para o plural para evidenciarmos os vários elementos que compõem o todo.”

Também se deve aceitar como correcto, quer a utilização do singular, quer do plural, quando o relativo que “vem antecedido das expressões um dos, uma das (+ substantivo)”.Nestes casos o verbo “vai para a 3ª pessoa do plural ou, mais raramente, para a 3ª pessoa do singular (in Nova gramática do Português Contemporâneo, pág. 498).
Exemplos:“És um dos raros homens que têm o mundo nas mãos.” (Augusto Abeleira); ...era aí mesmo um dos primeiros homens doutos que escrevia em português sem mácula.”(Camilo Castelo Branco)

o repouso. os momentos.
a partilha.
sentir.
ser assim:
- feliz.
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Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa

domingo, 11 de fevereiro de 2007

nota final...
Equilíbrio
Rosiane
as cores do outono são sempre tão iguais...
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(tela: Outono, de José Malhoa
// foto: Cores de Outono, de Mário Henriques)


Alexandre O’Neill – um fazedor de palavras

Hoje, Alexandre O’Neill.



De acodo com António Alçada Baptista (in A pesca à Linha – Algumas Memórias) esta figura da nossa literatura foi um poeta que procurou mergulhar numa certa forma de realismo poético e a sua experiência surrealista teve muito mais a ver com a necessidade de desembaraçar a liberdade das suas entranhas repressões do que como o processo de libertação aotomática da palavra, que exprimisse qualquer conteúdo poético oculto. (...) nenhum poeta contemporâneo foi como ele capaz de captar com mais subtileza o halo poético do quotidiano, o estopo lírico-épico-dramático que está por debaixo da banalidade dos dias.


Estas últimas palavras de Alçada Baptista fazem-nos pensar no “Divertimento com sinais ortográficos”:

? –Serás capaz / de responder a tudo o que pergunto?”;

, - Quando estou mal disposta / (e estou-o muitas vezes...) / mudo o sentido às frases, / complico tudo...”;

ç – uma vírgula rebaixada / á condição de cedilha”;

! – Não abuses de mim!”

Nascido a 19 de Dezembro de 1924, em Lisboa, entra em 1932 para a Escola Primária da Rua S. José dos Carpinteiros. Um ano depois passa para o ensino particular, ingressando no Colégio Português de Educação Feminina, onde terminará a instrução primária e iniciará o curso dos liceus.

1944 é um ano de viragem na sua vida, determinante para o seu futuro profissional. Já terminado o liceu não é admitido para o Serviço Militar devido à asma e à miopia. Vê também negada a frequência do Curso de Pilotagem da Escola Náutica de Lisboa por causa da miopia. Como alternativa a estes dois projectos gorados, volta ao liceu para fazer, como externo, o Curso Complementar de Letras.

Em 1947 publica, na revista Mundo Literário, os seus primeiros textos. Em 1948 participa da fundação do Grupo Surrealista de Lisboa.

A relação de O’Neill com o grupo Surrealista dura pouco. Em 1950 abandona o grupo, no entanto ele não era avesso aos ideiais básicos do Surrealismo.
Passa, então, a colaborar com Cadernos de Poesia. No ano de 1951 publica a obra Tempo de Fantasmas – o seu primeiro livro de poemas.

Em 1953 é preso pela PIDE durante 40 dias, sendo visitado semanalmente pela irmã, que o faz à revelia dos pais. Mas é a mãe que acabará por mover influências, contra a vontade do filho, para que ele seja posto em liberdade.

O’Neill esteve sempre do outro lado do regime político imposto por Salazar, escrevendo panfletos e colaborando em diversas actividades anti-ditatoriais. Também nos seus versos o salazarismo aparece retratado:”(...à roda sem que apodreço / apodrecemos / a esta para ensanguentada que vacila / quase medita / e avança mugindo pelo túnel / de uma velha dor.”

Tal como muitos outros homens da literatura, a sobrevivência económica de O’Neill não provinha dos seus poemas. Foi a publicidade que lhe deu algum conforto económico tendo sido o criador de solgans como: “Bosch é Bom” e “Há mar e mar, há ir e voltar.”

Casou duas vezes, tendo de cada uma das uniões um filho, e manteve outra relação de 1980 até ao ano da sua morte em 1986.
Alexandre O’Neill “trabalhava os seus versos até chegar à simplicidade evidente de parecer que não dá trabalho nenhum” (Alçada Baptista). Exemplo dessa arte de fazer as palavras é sem dúvida o poema “Amigo”, presente em muitos dos manuais de Língua Portuguesa dos nossos poemas e que aqui deixamos para uma reflexão:

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavras
«amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar limpo,
Uma casa, mesmo modesta,
que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês
aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de
inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido,
Explorado,
É a verdade partilhada,
praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,

«Amigo» vai ser, é já uma
grande festa!

sábado, 10 de fevereiro de 2007



um vislumbrar longínquo
pelo espelho

apenas entrever

uma coisa que, apesar da nudez, seria pura
porque não seria exibição
era , talvez, uma revelação
um, Esta sou eu, estou aqui
sem disfarce, assim mesmo, como sou.
Despida de armaduras .
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(imagem: baigneuse, de Degas
// texto: autor identificado)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

CONTAGEM DECRESCENTE. 11 de fevereiro.

«Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?».
- SIM.


egoísmo. que seja. ofereço-me uma rosa. branca. a minha.

bom fim-de-semana.