quarta-feira, 15 de novembro de 2006

VII


"Virás comigo", disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava o meu estado doloroso,
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada a não ser uma ferida aberta pelo amor.


Repeti: vem comigo, como se estivesse a morrer,
e ninguém viu na minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que crescia em silêncio.
Oh amor, esqueçamos a estrela com espinhos!


Por isso quando ouvi a tua voz repetir
"Virás comigo", foi como se soltasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado


que da sua adega submersa subisse
e outra vez na boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.


(in Cem Sonetos, Pablo Neruda,
pág. 17, Campo das Letras)
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...ferida aberta pelo amor.
...sangue que crescia em silêncio.
...sabor de chamas...
"O amor é ferida que dói e não se sente" (Camões)
em silêncios de chamas, ama-se.

6 comentários:

Pêndulo disse...

Então faz pouco barulho e ouve o crepitar das chamas do teu coração. Aproveita esse calor, agora, quando chegaram os frios do Outono e os dias são cada vez mais curtos, como as ilusões.

Rosalina Simão Nunes disse...

bonito, pêndulo.

mas a propósito de ilusões...eu vivo-as mais, precisamente, no tempo dos dias curtos. a noite é amiga delas.

Pêndulo disse...

O Xanax parece que remedeia isso. É uma noite bem dormidinha de fio a pavio a :p lololol


(para aligeirar a coisa que o "post" está a ficar muito melodramático)

Rosalina Simão Nunes disse...

ahahhahahha...

eu bem que estranhei o tom, pêndulo.

mfc disse...

O encanto de quem, finalmente, vê correspondido o seu desejo.
Sim,porque é o desejo que nos move!

Rosalina Simão Nunes disse...

concordo, mfc.