quinta-feira, 30 de novembro de 2006
quarta-feira, 29 de novembro de 2006
segunda-feira, 27 de novembro de 2006
-Bom dia – disse o principezinho.
-Bom dia –disse o agulheiro.
-O que fazes aqui? – disse o principezinho.
-Separo os passageiros em pacotes de mil – disse o agulheiro. – Dou a partida aos comboios que os levam, ora para a direita, ora para a esquerda.
E um rápido iluminado, rugindo como um trovão, fez tremer a cabina do agulheiro.
-Têm muita pressa – disse o principezinho. – O que procuram?
-Nem sequer o próprio maquinista o sabe – disse o agulheiro.
E em sentido inverso, rugiu um segundo rápido iluminado.
-Já estão de volta? – perguntou o principezinho...
-Não são os mesmos – disse o agulheiro. – É uma mudança.
-Não estavam satisfeitos onde estavam?
-Nunca se está satisfeito onde se está – disse o agulheiro.
E rugiu o trovão de um terceiro rápido iluminado.
-Estão a perseguir os primeiros passageiros? – perguntou o principezinho.
-Não perseguem nada – disse o agulheiro. – Dormem lá dentro ou então bocejam. Só as crianças esmagam o nariz contra as vidraças.
-Só as crianças sabem o que procuram – disse o principezinho. – Perdem tempo com uma boneca de trapos e ela torna-se muito importante, e se lha tiram, chora...
-Têm sorte – disse o agulheiro.
-Bom dia –disse o agulheiro.
-O que fazes aqui? – disse o principezinho.
-Separo os passageiros em pacotes de mil – disse o agulheiro. – Dou a partida aos comboios que os levam, ora para a direita, ora para a esquerda.
E um rápido iluminado, rugindo como um trovão, fez tremer a cabina do agulheiro.
-Têm muita pressa – disse o principezinho. – O que procuram?
-Nem sequer o próprio maquinista o sabe – disse o agulheiro.
E em sentido inverso, rugiu um segundo rápido iluminado.
-Já estão de volta? – perguntou o principezinho...
-Não são os mesmos – disse o agulheiro. – É uma mudança.
-Não estavam satisfeitos onde estavam?
-Nunca se está satisfeito onde se está – disse o agulheiro.
E rugiu o trovão de um terceiro rápido iluminado.
-Estão a perseguir os primeiros passageiros? – perguntou o principezinho.
-Não perseguem nada – disse o agulheiro. – Dormem lá dentro ou então bocejam. Só as crianças esmagam o nariz contra as vidraças.
-Só as crianças sabem o que procuram – disse o principezinho. – Perdem tempo com uma boneca de trapos e ela torna-se muito importante, e se lha tiram, chora...
-Têm sorte – disse o agulheiro.
Antoine de Saint-Exupéry
O Principezinho
________________________________
deveríamos perder mais tempo com bonecas de trapos?!...
(...)
julgo que sim...
O texto de que transcrevi de O Principezinho faz parte duma ficha de trabalho que propus a uma das turmas que tenho neste ano. A propósito dum comentário que se pedia sobre a oposição que se estabelece entre o mundo das crianças e o mundo dos adultos, uma jovem de 14 anos escreve assim:
As crianças vivem num mundo criado por elas próprias, onde não existe maldade, terror, tristeza, nem nada de mau. É com esta ilusão que elas são felizes.
Os adultos vivem num mundo completamente diferente. Cheio de maldade, tristeza, onde toda a gente se preocupa apenas consigo mesmo.
Enquanto as crianças vivem felizes com o mundo que vão construindo, os adultos já o têm construído e vão dando cabo dele.
As crianças apenas têm certezas, certezas daquilo que têm e querem, enquanto que os adultos só conseguem ter dúvidas e preocupações.
sábado, 25 de novembro de 2006
sabia que tinha de esperar. ou, então, podia iniciar o percurso. mas, também, sabia que o caminho seria o mesmo. as pessoas passariam sem que os seus olhos fossem diferentes. os gestos, profundamente distantes, não seriam reconhecidos por ninguém como um sinal. naquela rua ninguém saberia entender a sua procura. restava-lhe optar por seguir em frente, esperar, ou deixar a rua vazia, ausente da sua presença.
esperou.
esperou.
(foto: Viseu, de Parrot)
sexta-feira, 24 de novembro de 2006
Uma flor Uma pequena flor
Que eu colhi Só a pensar
Em ti
Eu bem sei
Que fui longe demais
Também sei
Que o não farei jamais
Uma flor Uma pequena flor Que eu colhi Só a pensar
EM ti
Eu bem sei Que fui longe demais Também sei Que o não farei jamais
Uma flor Uma pequena flor Que eu colhi Só a pensar
Em ti
Eu bem sei Que fui longe demais
Também sei Que o não farei jamais
(letra: Uma pequena flor (Entre Aspas) //
foto: pêndulo )
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
terça-feira, 21 de novembro de 2006
Coro
Senhor, se ele dissertou com propriedade, é natural que tu aprendas com ele, e tu, Hémon, com teu pai, por tua vez; pois de ambas as partes se disseram palavras sensatas.
Creonte
Com que então devo aprender a ter senso nesta idade, e com um homem de tão poucos anos?
Hémon
Nada aprenderias que não fosse justo. E, se eu sou jovem, não são os anos, mas as acções, que cumpre examinar.
Creonte
«As acções» consistem então em honrar desordeiros?
Hémon
Nem aos outros eu mandaria ter respeito pelos perversos.
Creonte
E então ela não foi atacada por esse mal?
Hémon
Não é isso que afirma o povo unido de Tebas.
Creonte
E a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?
Hémon
Vês? Falas como se fosses uma criança.
Creonte
É portanto a outro, e não a mim, que compete governar este país?
Hémon
Não há Estado algum que seja pertença de um só homem.
Creonte
Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?
Hémon
Mandarias muito bem sozinho numa terra que fosse deserta.
Senhor, se ele dissertou com propriedade, é natural que tu aprendas com ele, e tu, Hémon, com teu pai, por tua vez; pois de ambas as partes se disseram palavras sensatas.
Creonte
Com que então devo aprender a ter senso nesta idade, e com um homem de tão poucos anos?
Hémon
Nada aprenderias que não fosse justo. E, se eu sou jovem, não são os anos, mas as acções, que cumpre examinar.
Creonte
«As acções» consistem então em honrar desordeiros?
Hémon
Nem aos outros eu mandaria ter respeito pelos perversos.
Creonte
E então ela não foi atacada por esse mal?
Hémon
Não é isso que afirma o povo unido de Tebas.
Creonte
E a cidade é que vai prescrever-me o que devo ordenar?
Hémon
Vês? Falas como se fosses uma criança.
Creonte
É portanto a outro, e não a mim, que compete governar este país?
Hémon
Não há Estado algum que seja pertença de um só homem.
Creonte
Acaso não se deve entender que o Estado é de quem manda?
Hémon
Mandarias muito bem sozinho numa terra que fosse deserta.
(in Antígona, Sófocles, INIC, 1984, vv. 725-739,
pp. 69-70, trad. de Maria Helena da Rocha Pereira)
pp. 69-70, trad. de Maria Helena da Rocha Pereira)
_________________________________________
o Coro, a voz sensata.
Hémon, o filho.
Creonte, o pai.
Sófocles, séc. V A.C..
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
sonho. s.m. (Do lat. somnium). 1.Actividade psíquica, não voluntária, que se manifesta durante o sono; conjunto de ideias e de imagens que ocorrem durante o sono. 2.Conjunto de ideias imaginadas em estado de vigília; imaginação sem fundamento. 3.Desejo intenso; a maior aspiração. (...)
( in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea,
Academia das Ciências de Lisboa, Verbo)
(imagem daí...)
domingo, 19 de novembro de 2006
Creonte
Ai de mim! não pode jamais a minha sorte
a outro mortal adaptar-se, e a mim
deixar-me sem culpa!
Fui eu, fui eu que te matei, ó desgraçada,
fui eu, esta é a verdade. Ai, ó meus servos,
levai-me sem demora, p'ra longe me levai,
a mim que não sou
mais do que nada.
Coro
Vantajosos são os teus conselhos, se é que na desgraça alguma vantagem pode haver. Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
Creonte
Sim! Sim!
Que surja p'ra mim
a sorte mais bela, o dia trazendo
derradeiro, e para mim supremo.
Que venha, sim, que venha e que eu não veja
o dia nunca mais!
Coro
Isso ao futuro pertence. Mas com os que aqui jazem algo há a fazer. O resto importa só àqueles que disso têm cuidado.
Creonte
Mas, pelo menos, todo o meu desejo o pus nesta oração.
Coro
Não, não implores ninguém; aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Creonte
Levai, sim, levai para longe este homem
tresloucado, que sem querer te matou, filho,
e a ti, também!
Ai de mim, desgraçado, não sei para qual
hei-de olhar, a quem apoiar-me, pois tudo
que tenho nas mãos está abalado; sobre mim
impende um futuro
que não se suporta.
Coro
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
Com os deuses não seja ímpio ninguém.
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
deste excerto de Sófocles, séc. V A.C., destaco:
Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
...aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
porque os outros já tudo disseram, às vezes, é tão inútil insistir nas nossas palavras:
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
persiste, no entanto, a dúvida sobre o ensinamento.
Ai de mim! não pode jamais a minha sorte
a outro mortal adaptar-se, e a mim
deixar-me sem culpa!
Fui eu, fui eu que te matei, ó desgraçada,
fui eu, esta é a verdade. Ai, ó meus servos,
levai-me sem demora, p'ra longe me levai,
a mim que não sou
mais do que nada.
Coro
Vantajosos são os teus conselhos, se é que na desgraça alguma vantagem pode haver. Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
Creonte
Sim! Sim!
Que surja p'ra mim
a sorte mais bela, o dia trazendo
derradeiro, e para mim supremo.
Que venha, sim, que venha e que eu não veja
o dia nunca mais!
Coro
Isso ao futuro pertence. Mas com os que aqui jazem algo há a fazer. O resto importa só àqueles que disso têm cuidado.
Creonte
Mas, pelo menos, todo o meu desejo o pus nesta oração.
Coro
Não, não implores ninguém; aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Creonte
Levai, sim, levai para longe este homem
tresloucado, que sem querer te matou, filho,
e a ti, também!
Ai de mim, desgraçado, não sei para qual
hei-de olhar, a quem apoiar-me, pois tudo
que tenho nas mãos está abalado; sobre mim
impende um futuro
que não se suporta.
(Creonte é levado para o palácio.)
Coro
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
Com os deuses não seja ímpio ninguém.
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
(in Antígona, Sófocles, INIC, 1984, vv. 1316-1353,
pp. 95-96, trad. de Maria Helena da Rocha Pereira)
_______________________________________deste excerto de Sófocles, séc. V A.C., destaco:
Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
...aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
porque os outros já tudo disseram, às vezes, é tão inútil insistir nas nossas palavras:
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
persiste, no entanto, a dúvida sobre o ensinamento.
sábado, 18 de novembro de 2006
Talvez por não saber falar de cor, imaginei
Talvez por saber o que não será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...sei lá eu o que queres dizer.
Despedir-me de ti:
"Adeus, um dia, voltarei a ser feliz."
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
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Talvez por saber o que não será melhor, aproximei
Meu corpo é o teu corpo, o desejo entregue a nós...sei lá eu o que queres dizer.
Despedir-me de ti:
"Adeus, um dia, voltarei a ser feliz."
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
sabe Deus o que quero dizer.
Obrigado por saberes cuidar de mim, tratar de mim, olhar para mim...
Escutar quem sou e se ao menos tudo fosse igual a Ti...
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de ENTENDER.
Eu já não sei se sei o que é sentir o teu amor não sei o que é sentir.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
É o amor que chega ao FIM. Um final assim, assim é mais fácil de entender...
Se por falar, falei, pensei que se falasse é mais fácil de entender.
Se por falar, falei, pensei que se falasse era fácil de entender.
(letra: Fácil de Entender, The Gift //
fotos de António Manuel Pinto da Silva)
_______________________________________________
sexta-feira, 17 de novembro de 2006
Amada, não ames demasiado tempo;
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.
Ao longo desses anos da nossa juventude
Não podíamos distinguir
O nosso pensamento do pensamento alheio
Porque tão unidos éramos apenas um.
Mas em breve, breve instante ela mudou -
Oh, não ames demasiado tempo
Ou irás passando de moda
Como uma velha canção.
Eu amei tanto, tanto
E fui passando de moda
Como uma velha canção.
Ao longo desses anos da nossa juventude
Não podíamos distinguir
O nosso pensamento do pensamento alheio
Porque tão unidos éramos apenas um.
Mas em breve, breve instante ela mudou -
Oh, não ames demasiado tempo
Ou irás passando de moda
Como uma velha canção.
(in Uma Antologia, W.B. Yeats,
pág. 47, Assírio & Alvim, 1996)
________________________________________
talvez ousadia...talvez...
mas depois de Yeats apeteceram-me estes verso de Catulo (séc. I A.C.):
Vivamos, minha Lésbia, e amemos,
e os murmúrios dos velhos mais severos
dêmos-lhes a todos o valor de um centavo!
Os sóis podem extinguir-se e voltar:
mas nós, uma vez que se extingue a breve luz do dia,
temos de dormir uma só noite, para sempre.
Dá-me mil beijos, depois um cento,
e mais mil, depois outro cento,
depois outros mil, e mais cem.
Em seguida, quando juntarmos muitos milhares,
misturamo-los, para que não saibamos
ou nenhum malvado possa invejar-nos,
quando souber que os beijos foram tantos.
(trad. de Maria Helena da Rocha Pereira,
in Romana, pp. 93-94, Universidade de Coimbra, 1986)
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
VII
"Virás comigo", disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava o meu estado doloroso,
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada a não ser uma ferida aberta pelo amor.
Repeti: vem comigo, como se estivesse a morrer,
e ninguém viu na minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que crescia em silêncio.
Oh amor, esqueçamos a estrela com espinhos!
Por isso quando ouvi a tua voz repetir
"Virás comigo", foi como se soltasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado
que da sua adega submersa subisse
e outra vez na boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.
"Virás comigo", disse, sem que ninguém soubesse
onde e como pulsava o meu estado doloroso,
e para mim não havia cravo nem barcarola,
nada a não ser uma ferida aberta pelo amor.
Repeti: vem comigo, como se estivesse a morrer,
e ninguém viu na minha boca a lua que sangrava,
ninguém viu aquele sangue que crescia em silêncio.
Oh amor, esqueçamos a estrela com espinhos!
Por isso quando ouvi a tua voz repetir
"Virás comigo", foi como se soltasses
dor, amor, a fúria do vinho encarcerado
que da sua adega submersa subisse
e outra vez na boca senti um sabor de chama,
de sangue e cravos, de pedra e queimadura.
(in Cem Sonetos, Pablo Neruda,
pág. 17, Campo das Letras)
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...ferida aberta pelo amor.
...sangue que crescia em silêncio.
...sabor de chamas...
"O amor é ferida que dói e não se sente" (Camões)
em silêncios de chamas, ama-se.
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
sábado, 11 de novembro de 2006
sexta-feira, 10 de novembro de 2006
quinta-feira, 9 de novembro de 2006
argumentação falaciosa
No n.º 212, Outubro de 2006, do Jornal da FENPROF, página 15, no espaço da entrevista feita a Mário Nogueira, numa espécie de nota de roda pé, lê-se o seguinte:
"(...)eu penso que os professores podem estar muito inquietos e preocupados com aquilo que vai ser a evolução das condições socioeconómicas do seu trabalho, mas isso não significa que, quotidianamente, na escola, não gostem de ensinar, não estejam de corpo e alma com os seus alunos e não dêem o seu melhor. É isto que no fundo se manifesta."
"(...)eu penso que os professores podem estar muito inquietos e preocupados com aquilo que vai ser a evolução das condições socioeconómicas do seu trabalho, mas isso não significa que, quotidianamente, na escola, não gostem de ensinar, não estejam de corpo e alma com os seus alunos e não dêem o seu melhor. É isto que no fundo se manifesta."
Entrevista da Maria de Lurdes Rodrigues,
Ministra da Educação no jornal "Acção Socialista"
Confesso que tive de ler várias vezes estas palavras, e, ainda assim, não as consegui perceber. Poder-se-á dizer que é por estarem retiradas do seu contexto. Talvez. E, no entanto, sem conhecer (ainda) o texto na íntegra, este, suponho que..., final de parágrafo está enfermo. Assim sendo, e para melhor perceber o seu conteúdo, decidi fazer uma análise mais metódica do mesmo, tendo que passar, obviamente, pelo tratamento escrito.
[...]
Vejamos:
A Senhora Ministra da Educação pensa que os professores podem estar muito inquietos e preocupados...A primeira questão que se coloca desde logo é a seguinte: utilizando para introduzir este parecer o verbo penso, a Senhora Ministra deveria ter dito penso que os professores possam estar muito inquietos e preocupados, porque, afinal, é tão simplesmente uma opinião.
A Senhora Ministra da Educação pensa que os professores podem estar muito inquietos e preocupados...A primeira questão que se coloca desde logo é a seguinte: utilizando para introduzir este parecer o verbo penso, a Senhora Ministra deveria ter dito penso que os professores possam estar muito inquietos e preocupados, porque, afinal, é tão simplesmente uma opinião.
De facto, os professores estão inquietos e preocupados, mas, garantidamente, não será com aquilo que venha ser a evolução das condições socioeconómicas do seu trabalho.
Os professores estão preocupados com as condições pedagógicas de trabalho que já lhes estão a ser asseguradas pela actual equipa ministerial.
Como é óbvio, não me atrevo, sequer, a explicar o que são condições pedagógicas de trabalho. Afinal, todo o professor é um pedagogo e a autora das palavras é a Ministra da Educação.
É óbvio, também, que, como consequência das medidas socioeconómicas preconizadas pelo actual Governo, os professores, a curto prazo, passarão a estar muito preocupados com as condições pedagógicas inerentes às mesmas.
Feita a leitura da primeira parte desta proposição, carece, agora, explorar a segunda que, aparentemente, pela utilização do mas, seria o contraposto da primeira. Pois...
Diz, então, a Senhora Ministra que apesar de estarem muito inquietos e preocupados com aquilo que vai ser a evolução das condições socioeconómicas do seu trabalho,(...) quotidianamente, na escola, os professores gostam de ensinar e estão de corpo e alma com os seus alunos e dão o seu melhor.
Em suma, os professores são pessoas que gostam de ensinar, dão o corpo, a alma e dão o seu melhor!
Ora bem, tendo afirmado antes que as preocupações dos docentes são socioeconómicas, gostaria de saber qual é o preço, em euros, da minha alma. Porque é isso que se infere das palavras: que os professores andam a vender a alma.
Como se sabe, a dádiva dos professores é remunerada todos os meses.
E, no entanto, eu não sou missionária...
Sou professora de Nomeação Definitiva do Quadro de um Escola (vulgo professora efectiva), logo profissionalizada.
Não dou, nem vendo aulas: sou professora.
Quanto à frase final: É isto que no fundo se manifesta, gostaria de perceber como é que se tem essa certeza.
Quantos anos se passaram numa escola?
Com quantos professores se falou até agora?
Todos os juízos de valor devem ser construídos com base em factos vivenciados, estudados. Só assim são válidos. Só assim poderão ser credíveis.
O silêncio é preferível à argumentação falaciosa.
Rosalina Simão Nunes
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