terça-feira, 3 de julho de 2007


um momento

era uma daquelas viagens que tinha de repetir todos os anos. já passara tanto tempo e ainda assim tinha esperança de voltar a encontrá-la.
as memórias pregam-nos destas partidas. esquecemos por tanto tempo factos que gostaríamos de perder para sempre e, de repente, eles surgem como se o dia do acontecimento tivesse sido ontem.
estávamos em agosto. era a festa da aldeia. nunca gostara muito daquelas actividades, mas...como a avó me pedia, por lá andava, sempre com um sorriso nos lábios a mostrar a minha alegria que só eu sabia fingida.
era o fim da tarde. as ruas estavam quase vazias, já se cheirava o frescor da noite.
e eu ainda vagueava por ali.
aquela hora até que me era agradável.
subi a rua que ia dar ao coreto. o centro da festa, onde os músicos iriam tocar toda a noite para embalar as almas nos sonhos.
quando já me preparava para regressar a casa, decidido a não voltar ali, naquela noite...reparei nela.
estava sentada nas escadas do coreto.
era alta, esguia. cabelos e olhos pretos. pelo menos foi sempre assim que a imaginei.
os cabelos soltos esvoaçavam ao sabor da brisa. aproximei-me.
não a conhecia. como estávamos "em festa", escondi a minha timidez, e perguntei-lhe quem era. olhou para mim. sorriu e manteve-se em silêncio, fixando o olhar num ponto qualquer da aldeia.
insisti que me dissesse quem era.
estava preso àquela escada. e agora não queria sair dali. ela, então, silenciosamente, levantou-se, olhou-me e disse que me diria à noite. que me esperaria ali, naquelas escadas, e que dançaria comigo a noite toda.
e foi-se embora.
eu fiquei parado. não consegui mover-me.
devem ter passado mais de vinte minutos...entretanto, tocou o sino da igreja a anunciar a hora que eu sabia ser a do jantar.
corri para casa da avó.
já depois do jantar, e como era habitual, sentei-me a ver televisão à espera que a avó lavasse a loiça. só então iríamos os dois, de novo, até ao centro da aldeia ver a festa.
como estava ansioso pelo tal encontro...acabei por fechar os olhos a sonhar...
quando os voltei a abrir, o silêncio já tomara conta da casa da avó e da festa lá fora.
ainda saí a correr até ao coreto...
mas já estava vazio.
não encontrei ninguém.
as ruas vazias.
nada.
só eu.
o tempo passou e eu vivi a minha vida. esquecido daquele momento, no dia-a-dia, e, no entanto, todos os anos, em agosto, lá volto.
um dia, hei-de encontrá-la. alta, esguia, cabelos e olhos pretos.
um dia...

12.junho.2006

3 comentários:

Anónimo disse...

plagiadora, vi esta história contada noutro blog

histórias por acabar...

pfffff

ordinária

Pedro Damião disse...

Concordo e até diria mais: extraordinária. Eu também vi isto escrito num outro blogue, só que não me lembro é do nome. Mas parece-me que era qualquer coisa parecido com diem ou capato ou carpe, qualquer coisa assim parecida. Até deixo aqui o link para poderem verificar

http://omeucarpediem.blogspot.com

Rosalina Simão Nunes disse...

ehehhehehhehe...tempus.

Já viste isto?! E só me conhece pelas palavras...Imagina que me conhecia mesmo. ;)

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*Obrigada pelas tuas palavras.