sexta-feira, 30 de março de 2007



à procura das amêndoas...

quinta-feira, 29 de março de 2007


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por Virginia Woolf, in As Ondas,
pág. 152, Relógio d'Água
Muitas vezes as impressões visuais transmitem breves manifestações que no futuro seremos capazes de desvendar e de formular em palavras. Por isso anoto na página do B: «Barbatana numa extensão de água.»
Eu que passo a vida a cobrir de notas a margem da minha memória, com a intenção de as utilizar numa comovente descoberta final, escrevi estas palavras a pensar numa noite de Inverno.

quarta-feira, 28 de março de 2007



sétimo degrau

dobrou a esquina. de repente as escadas.
começou a subi-las. eles estavam no sétimo degrau. eram dois. olhou para eles em silêncio. eles sorriram. quem seriam? que estariam a fazer ali? de onde tinham vindo. olhou para eles. nos olhos de ambos, uns castanhos, outros azuis, estava estampado o segredo da infância. eram rapazes ainda. e riam. quando ela apareceu eles deixaram de falar entre si e olharam para aquela mulher que tinha dobrado a esquina e começara a subir a escada.quem seria ela? que estaria ali a fazer? de onde teria vindo? estavam curiosos, mas ficaram em silêncio.
então, ela, a mulher, perguntou: que estão a fazer aqui?
eles, que continuavam sentados no sétimo degrau, olharam para ela com espanto. o que estavam a fazer ali?! ora, estavam ali.
era ali, no sétimo degrau que todos os dias estavam àquela hora.
e todos os dias, àquela hora, no sétimo degrau, contavam histórias um ao outro para o tempo passar.
mas nunca, até àquele dia, àquela hora, quando eles estavam sentados no sétimo degrau, a contar histórias para o tempo passar, tinha aparecido uma mulher que tivesse dobrado a esquina.
e isso era muito estranho. quem falara tinha sido o rapaz de olhos castanhos. o dos olhos azuis só ouvia, muito atento, a ver se o outro não se enganava.
e foi assim.
naquele dia, àquela hora, no sétimo degrau daquela escada, aquela mulher tinha dobrado a esquina e tinha falado com aqueles rapazes.
ela continuou a subir os degraus. eles lá ficaram a passar o tempo, contando histórias.
12 de março de 2006
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[este texto aconteceu a pedido de dois alunos que encontrei numa das escadas da escola, sentados no sétimo degrau]
12 de março de 2006

segunda-feira, 26 de março de 2007



as nossas rotinas. os nossos dias em horas, minutos. tudo em harmonia. tudo sincronizado. a manhã, de sol; a tarde, que passa; a noite do descanso. e o dia esvai-se. lentamente. paulatinamente como se fôssemos ondas de mar. harmoniosamente. e, no entanto, tantas vezes sós...














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Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 25 de março de 2007

o mesmo desalento...

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(escultura: Nu, de Rodin //
cena de Eyes wide shut)

sábado, 24 de março de 2007

pose...
AJM
Alex Magedler


não havia a luz, nem as cores. nem sons, nem movimentos.
aquele momento só nosso ficou guardado nas paredes que nos sustentavam. eu sorri. tu recebeste o meu sorriso e o abraço aconteceu. só nós. os dois, parados num tempo que queríamos nosso.
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(foto de Helmut Newton)

sexta-feira, 23 de março de 2007

entre aspas...
Aspa
José Manuel Ciria

quinta-feira, 22 de março de 2007

serenidades...
Chicago
(Teresa Muñoz)


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por Karen Blixen, África Minha,
pág. 166, Público
A verdadeira aristocracia e o verdadeiro proletariado do mundo partilham a compreensão da tragédia. Para ambos, este é o princípio fundamental de Deus e a chave da existência. Neste aspecto, são diferentes da burguesia de todas as classes, que nega a tragédia, que não a tolera e para quem essa palavra significa algo de desagradável. Muitos mal-entendidos entre os colonizadores brancos da classe média e os nativos derivam desse facto. Os sombrios massais são a um tempo aristocracia e proletariado e devem ter reconhecido de imediato no viandante solitário vestido de preto uma figura da tragédia. E junto deles, o actor trágico deve ter-se sentido no seu verdadeiro elemento.
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A mediania da burguesia.
O pretensiosismo das classes médias mascaradas de palavras falaciosas. A mentira que se esconde por detrás de propaganda. As explicações que se dão a desculpar aquilo que sempre se soube ser mentira. Isto a propósito de algumas falhas...


secretamente, viajamos no tempo dos outros.


quarta-feira, 21 de março de 2007



PARADO

tivessem tomado uma decisão. o rosto impávido.
nem um esgar de tristeza.
apenas ali parado.
de repente, passou um comboio... não se desviou. continuou ali parado.
eu, que estava do outro lado da linha, sentada na esplanada dum café qualquer da estação, observava. nunca vira tanta imobiliade.
pus-me a tecer considerações sobre as razões que levariam a que aquele homem estivesse ali. assim. tão parado. tão inerte.
tinha traços no rosto de alguém que não queria estar ali. parecia ser daqueles indivíduos decididos.
mas não. estava ali parado.
entretanto, já tinha bebido o meu chá. comido as torradas, com muita manteiga...sempre com muita manteiga!
a conta fora pedida. e agora vinha o empregado todo solícito entregar-ma. e eu que não queria. pretendia ficar ali, também, parada, a ver o que fazia aquele homem, ali, parado.
mas o empregado não deixava...sempre a passar pela minha mesa, com um olhar curioso e impertinente a controlar o pires onde deixara a conta...tive de pagar.
tive de me levantar.
tive de começar a sair daquele espaço.
o meu caminho era do lado oposto ao da linha para onde o homem estava virado e parado.
ainda olhei para trás à procura de um movimento. mas ele não aconteceu. ainda estava ali parado....passou outro comboio...

20 DE FEVEREIRO 2006

segunda-feira, 19 de março de 2007

faz frio ali.
mas, aqui, no teu aconchego, sinto calor.




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Ontem à noite ficou frio. O catavento de St. Jérôme virou e rodopiou numa indecisão ansiosa durante toda a noite, rangendo estridentemente contra as amarras ferrugentas como se alertasse contra invasores. A manhã começou com um nevoeiro tão cerrado que até a torre da igreja, a vinte passos da montra, parecia distante e espectral, com o sino chamando pesadamente, para a missa por entre chumaços de algodão-doce à medida que os primeiros crentes chegavam, de golas subidas contra o nevoeiro e à procura de absolvição.
in Chocolate, de Joanne Harris,
pág. 65, Edições ASA

domingo, 18 de março de 2007

séria? preocupada? triste? profundamente distante...


(foto de Ricardo Laske)

sábado, 17 de março de 2007














o fim de semana está de janelas abertas...

sexta-feira, 16 de março de 2007

as cores do dia,



hoje, estão assim...

quinta-feira, 15 de março de 2007

é assim. hoje já acordei feliz.
bom dia.

quarta-feira, 14 de março de 2007

pensamentos...
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José Marafona
o tufo de flores muito especial


era um tufo de flores muito especial. nele podíamos encontrar quase toda a espécie de flores. girassóis, malmequeres, rosas, tulipas...mas o que era mais especial era o facto destas flores estarem sempre a falar, a puxar as pétalas umas às outras, a pedir às abelhas para picarem as amigas, a dizerem mal umas das outras. enfim, uma confusão. e, no entanto, eram muito engraçadas.
aquele tufo tinha vinte flores. umas amarelas, outras vermelhas, algumas cor-de-rosa...e, imaginem que, até por causa das cores, discutiam! era sempre uma confusão. e, no entanto, eram muito engraçadas.
um dia, chegou àquele tufo um cacto. ora, como sabem, os cactos têm a mania que sabem tudo. como têm aqueles picos fortes, julgam que assustam toda a gente. pois é, o cacto achou que aquele tufo tão cheio de confusão era o ideal para ele "governar". e instalou-se. a seguir começou a ditar ordens e a dizer como é que as flores deviam estar e ser. as flores, que não estavam habituadas a que alguém lhes dissesse como é que deviam ser ou estar, não reagiram até porque o cacto tinha aqueles picos que podiam ser muito dolorosos. foram fazendo o que o cacto lhes dizia.
os dias foram passando. depois, começaram a passar as semanas. a seguir os meses e, quando já tinham passado anos, as flores aperceberam-se que já não puxavam as pétalas umas às outras; já não pediam às abelhas para picarem as amigas e que já não diziam mal umas das outras. acharam, por isso, aquilo muito estranho.
já não havia confusão.
aperceberam-se, também, que já não se riam, nem brincavam como dantes. ora, como seria de esperar, começaram a não gostar da situação.
um dia, esperaram que o cacto fosse dar o seu passeio matinal e resolveram reunir-se. durante a reunião, umas diziam que preferiam o tufo assim. que estava mais sossegado e arrumado...no entanto, a maioria achava que viver daquela maneira não tinha graça. decidiram falar com o cacto logo que ele chegasse.
quando o cacto chegou, as flores disseram-lhe que estavam fartas das suas ordens. que queriam voltar a puxar as pétalas umas às outras; que queriam pedir às abelhas para picarem as amigas; que queriam poder tornar a dizer mal umas das outras. imaginem que o cacto até gostou da ideia. afinal, ele tinha gostado daquele tufo pela sua engraçada confusão.
os cactos, apesar da aparência dura, também têm um coração doce.
dezembro.2001

terça-feira, 13 de março de 2007



e quando acordamos cansados do dia que ainda agora nasceu?!...

segunda-feira, 12 de março de 2007

tens uma alma negra...
era assim. e, afinal, todos pensavam daquela forma. as perguntas sucediam-se e as respostas soavam vagas...sempre efémeras.

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depois, os tempos aconteciam cinzentos. as nuvens cerravam os céus até que o sol, um dia, voltava.


(fotos de Diafragma)

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AVISO

Não venham mais aqui,
Não venham mais.
Nem digam que vivi,
Entre os demais.


Preciso que me esqueçam e me esqueça
Para poder ser eu.
E me esvaziem olhos e cabeça
Até onde o que sou chamei de meu.

Estou cansada de ser o que outros fui
E o que os outros me foram em presença.
Cansada de Leituras, de Pinturas,
De Esculturas, só de música, não!,
Nem das ruínas das Arquitecturas...

O que eu queria não era bem a Morte,
Porque a Morte era eu para além de mim.
Eu queria o fim, o fim...


Natércia Freire,
in Poesia Completa, pág. 239, edições quasi

domingo, 11 de março de 2007

abandono total...



(tela: Beloved, de Karen-McIntyre
// cena de: The Bridges of Madison County)
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- amanhã já é segunda, mas nem quero ouvir!!...

sábado, 10 de março de 2007



Arranjei mulher bonita
Por todos é cobiçada
Mas ela é tão esquisita
Põe-me a vida ensarilhada

Vou com ela pela rua
Todos lhe fazem olhinhos
Tenho ciúmes à toa
Desde amigos a vizinhos
Só pensa em grandeza e luxos

Só me pede jóias de oiro
Para lhe alimentar os caprichos
Tenho de trabalhar como um moiro

Esta mulher é a minha ruína

Dá comigo em estroina
E se não ponho termo a isto
Vou acabar à moina
Há tempos quis um diamante
Eu disse-lhe que estava liso
Disse-me que arranjava amante
Que até lhe punha casa se fosse preciso

Fiz de fraco à sua frente
Fartei-me de lhe pedir
Mas ela ficou indiferente
E fez as malas para partir





Controlei
o desespero
Mas eu quase enlouquecia
Vim p'ra rua desvairado
E assaltei uma joalharia





(letra: Esta Mulher É A Minha Ruína, Carlos, Tê / Rui Veloso)


mais ou menos assim. bom dia.

sexta-feira, 9 de março de 2007

(O beijo de uma criança, de Kim Ramalh)
- já me cheira a fim de semana...

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(foto: miuky, de Luís Pereira)


quinta-feira, 8 de março de 2007



que seria dos outros, se as vozes se calassem?!...

quarta-feira, 7 de março de 2007



naquele dia
naquele dia, o miúdo não queria brincar. os amigos estranharam aquela atitude. ele costumava ser o primeiro a chegar à praia. e, quando eles lá chegavam, já ele construía os seus castelos de areia. mas, naquele dia, ele era outro.
acordara, de manhã, com uma grande vontade: queria que aquele dia fosse diferente de todos os que vivera - ele tinha apenas setes anos!... mas ao sentir a água gelada do duche a salpicar-lhe o corpo, tinha já a certeza daquela sua vontade.
foi para a praia. sentou-se na areia e estendeu o olhar pelo mar.
era tão lindo!!
o tempo que tinha perdido...estava ali. estava só, mas sentia-se bem.
de repente, começou a ouvir o burburinho das pessoas que vinham usufruir da frescura à beira-mar.as vozes dos companheiros chegavam até ele longínquas.
não queria estar com eles.
permanecia, ali, no esquecimento do passado. naquele dia ele construíra castelos de sonhos.
entretanto caiu a noite e o mar ficou escuro.

18.maio.1989

terça-feira, 6 de março de 2007



suavemente, assim, o dia acontece.

abrem-se os olhos: acabámos de acordar.

segunda-feira, 5 de março de 2007

a união...
Couple
Pieter van der Westhuizen








De Aurangabad, uma visita, no Carpe. Trata-se de uma cidade do Estado de Maharashtra, na Índia. Localiza-se no oeste do país. Tem cerca de 945 mil habitantes. Foi fundada em 1610.


Pelos vistos um lugar aprazível. A ver.


domingo, 4 de março de 2007


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a mesma fonte de orientação...











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. (tela: Orford Light, de Sylvia Antonsen