quarta-feira, 28 de março de 2007



sétimo degrau

dobrou a esquina. de repente as escadas.
começou a subi-las. eles estavam no sétimo degrau. eram dois. olhou para eles em silêncio. eles sorriram. quem seriam? que estariam a fazer ali? de onde tinham vindo. olhou para eles. nos olhos de ambos, uns castanhos, outros azuis, estava estampado o segredo da infância. eram rapazes ainda. e riam. quando ela apareceu eles deixaram de falar entre si e olharam para aquela mulher que tinha dobrado a esquina e começara a subir a escada.quem seria ela? que estaria ali a fazer? de onde teria vindo? estavam curiosos, mas ficaram em silêncio.
então, ela, a mulher, perguntou: que estão a fazer aqui?
eles, que continuavam sentados no sétimo degrau, olharam para ela com espanto. o que estavam a fazer ali?! ora, estavam ali.
era ali, no sétimo degrau que todos os dias estavam àquela hora.
e todos os dias, àquela hora, no sétimo degrau, contavam histórias um ao outro para o tempo passar.
mas nunca, até àquele dia, àquela hora, quando eles estavam sentados no sétimo degrau, a contar histórias para o tempo passar, tinha aparecido uma mulher que tivesse dobrado a esquina.
e isso era muito estranho. quem falara tinha sido o rapaz de olhos castanhos. o dos olhos azuis só ouvia, muito atento, a ver se o outro não se enganava.
e foi assim.
naquele dia, àquela hora, no sétimo degrau daquela escada, aquela mulher tinha dobrado a esquina e tinha falado com aqueles rapazes.
ela continuou a subir os degraus. eles lá ficaram a passar o tempo, contando histórias.
12 de março de 2006
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[este texto aconteceu a pedido de dois alunos que encontrei numa das escadas da escola, sentados no sétimo degrau]
12 de março de 2006

4 comentários:

Teresa Durães disse...

talvez com essa idade tinha um lugar assim. A Agora, como lhe chamávamos. O patamar entre escadas no prédio onde vivia. para as conversas e o cigarro às escondidas. Todos os dias à mesma hora. e se uma mulher tivesse passado teriamos largado gargalhadas em seguida com o ar de espanto. gargalhadas adolescentes!

boa noite

Alien8 disse...

Bela história do sétimo degrau, Rosalina.
Um beijo.

Rosalina Simão Nunes disse...

pois, Teresa. e foi assim um pouco o que aconteceu. eu também tenho memórias semelhantes. e é bom sentirmos,´de vez em quando, que, apesar de tudo, eles ainda vão tendo alguns dos nossos hábitos. ;)

Rosalina Simão Nunes disse...

'brigada, alien. :)