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Cidade
Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.
Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.
Sophia de Mello Breyner Andresen
6 comentários:
É de certa forma um paradoxo a vida na cidade. Artificial. Mas é interessante constatar que a cidade, tal como a "descreves" também é um certo "escape" para outras vivências quotidianas.
Quem bem escolhida a imagem, como sempre, aliás.
é tão fácil ficarmos anónimos numa cidade, tempus. e por vezes é necessária essa sensação: ser ninguém.
mas o mar é. nós não somos uma ondulação. quanto muito o nosso respirar.
essa solidão, esse quotidiano, está errado. não o compreendo nem aceito. é abjecto.
humm...Teresa, eu sou cada vez mais ondulação...e por isso mesmo cada vez mais livre. :)
mais livre porque o rejeitaste. não és uma ondulação, um espírito livre, um ser, és apenas.
eu não ando a conseguir ser. interiormente rejeito mas o exterior está a interferir. ando a tentar fazer o isolamento necessário.
:)
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