Nunca tive paciência para o "small talk", a "conversa da treta", e afins.
Muitas vezes, sei, sou antissocial. É totalmente consciente. E, no entanto, cada vez
mais disponível para ler e ouvir quem sabe.
Destaco o excerto em baixo,
mas todo o texto (que linko e transcrevo na totalidade em baixo) devia ser lido, particularmente, por quem seja pai,
mãe ou tenha essa responsabilidade. Há, de facto, matéria na educação
dos jovens que só compete mesmo aos pais. E há razões para que assim
seja.
DESTAQUE: "Nestas
idades o córtex pré-frontal ainda não atingiu a maturidade necessária
para controlar de forma adequada os impulsos e as emoções provenientes
da ativação de outra estrutura nervosa chamada amígdala e que integra o
sistema límbico. Mas este aspeto não serve por si só para tornar
inimputáveis os jovens, nem tão-pouco para justificar o seu
comportamento, serve apenas para reforçar a necessidade de se defender
uma educação com uma componente normativa, de modo a serem transmitidas
regras e um sentido de responsabilidade."
Torremolinos: bar aberto
12/4/2017, 8:21
12/4/2017, 8:21
Muitos pais têm perdido a autoridade sobre os seus filhos, e com
frequência capitulam quando é necessário impor limites ou aplicar
castigos. Ouço-os dizer, num tom resignado, que “agora é tudo assim”.
O país ficou chocado com a notícia da expulsão de mais de um
milhar de jovens devido a atos de vandalismo num hotel de Torremolinos,
onde estavam hospedados. Mas o que é que pode explicar esta autêntica
olimpíada de vandalismo e de destruição? Existem várias razões, mas
talvez a mais importante seja a ausência de uma capacidade que os
clássicos chamavam de temperança (do latim temperantia), mais recentemente designada por autocontrolo e que faz parte da “Inteligência emocional”.
Quando não se possui autocontrolo são transferidos para o
comportamento um conjunto de impulsos mais primitivos, entre os quais se
encontram a busca do prazer imediato e a violência. Nestas idades o
córtex pré-frontal ainda não atingiu a maturidade necessária para
controlar de forma adequada os impulsos e as emoções provenientes da
ativação de outra estrutura nervosa chamada amígdala e que integra o
sistema límbico. Mas este aspeto não serve por si só para tornar
inimputáveis os jovens, nem tão-pouco para justificar o seu
comportamento, serve apenas para reforçar a necessidade de se defender
uma educação com uma componente normativa, de modo a serem transmitidas
regras e um sentido de responsabilidade.
Neste contexto, é totalmente incompreensível que se organize uma
viagem de finalistas com o “bar aberto”, possibilitando o consumo de
bebidas alcoólicas a menores de forma totalmente desregrada. Ora, nestas
idades é o mesmo que dizer “podes beber até caíres para o lado”, e
muitas vezes caem mesmo para o lado sem darem por isso. Quando se bebe
álcool o objetivo é fazê-lo de forma moderada, facilitando o convívio
social, e não propriamente beber até atingir o coma alcoólico, como
infelizmente acontece cada vez mais nestas idades.
Se o autodomínio é uma virtude, há muitos jovens que não conseguem
desenvolver esta capacidade e levam esta limitação para a vida adulta,
tornando-se pessoas imaturas, escravos dos próprios desejos, com grandes
dificuldades de adaptação e com poucas probabilidades de sucesso na sua
vida familiar, social e profissional.
Nas últimas décadas houve uma tendência para se implementar modelos
educativos experimentais teóricos, como uma vertente demasiado
desresponsabilizadora, totalmente dissociados da realidade
psicobiológica humana. Os resultados estão à vista: casos crescentes de
indisciplina, desautorização da figura do professor e uma desvalorização
do ensino. A sociedade não melhorou, e este modelo acaba por contribuir
para que muitos jovens perpetuem a sua adolescência na idade adulta,
através de uma atitude perante a vida irrealista, governada pelos
desejos, repleta de direitos e desprovida de deveres.
Talvez por isso, as expulsões de alunos das salas de aula, por razões
disciplinares, continuem a ser demasiado frequentes nalgumas escolas.
Há dias escutei um relato de uma professora que tinha expulso 15 dos 30
alunos da turma por indisciplina. Percebe-se que há um ambiente difícil.
Estes casos fazem da atividade docente um exercício insuportável de
paciência, comprometem a saúde psíquica dos professores, e originam uma
tensão constante que nem o melhor dos ansiolíticos consegue atenuar.
Estas situações de indisciplina revelam comportamentos antissociais que —
embora num modelo de menor escala, e sem o efeito potenciador do álcool
e das drogas —, acabam por replicar a situação de expulsão dos
finalistas em Torremolinos.
Muitos pais têm perdido a autoridade sobre os seus filhos, e com
frequência capitulam quando é necessário impor limites ou aplicar
castigos perante comportamentos desviantes. Ouço-os dizer, num tom
resignado, “agora é tudo assim”, “todos os amigos consomem álcool e
drogas”, etc. Porém os limites e as repreensões também têm uma função
pedagógica, ajudam a estruturar a personalidade, preparando os
adolescentes para a vida adulta, já que na vida real todos nós somos
confrontados com limites e consequências quando desrespeitamos
determinadas regras e obrigações.
Os atos de vandalismo ocorridos em Espanha, cometidos provavelmente
por um número restrito de jovens, acabaram por dar uma péssima imagem
dos colegas, humilharam os pais e desprestigiaram o país. Afinal, o
autocontrolo é uma virtude humana que deve ser ensinada e aprendida.
Como disse Benjamin Franklin “A fúria tem sempre uma razão, mas
raramente uma boa razão”.*Médico Psiquiatra
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