quinta-feira, 13 de abril de 2017

A maturidade dos jovens. Os pais. A educação. A responsabilidade dos pais (encarregados de educação)

Nunca tive paciência para o "small talk", a "conversa da treta", e afins. Muitas vezes, sei, sou antissocial. É totalmente consciente. E, no entanto, cada vez mais disponível para ler e ouvir quem sabe. 
Destaco o excerto em baixo, mas todo o texto  (que linko e transcrevo na totalidade em baixo) devia ser lido, particularmente, por quem seja pai, mãe ou tenha essa responsabilidade. Há, de facto, matéria na educação dos jovens que só compete mesmo aos pais. E há razões para que assim seja.
 
DESTAQUE: "Nestas idades o córtex pré-frontal ainda não atingiu a maturidade necessária para controlar de forma adequada os impulsos e as emoções provenientes da ativação de outra estrutura nervosa chamada amígdala e que integra o sistema límbico. Mas este aspeto não serve por si só para tornar inimputáveis os jovens, nem tão-pouco para justificar o seu comportamento, serve apenas para reforçar a necessidade de se defender uma educação com uma componente normativa, de modo a serem transmitidas regras e um sentido de responsabilidade."

Torremolinos: bar aberto
12/4/2017, 8:21
  • Pedro Afonso*
Muitos pais têm perdido a autoridade sobre os seus filhos, e com frequência capitulam quando é necessário impor limites ou aplicar castigos. Ouço-os dizer, num tom resignado, que “agora é tudo assim”.
O país ficou chocado com a notícia da expulsão de mais de um milhar de jovens devido a atos de vandalismo num hotel de Torremolinos, onde estavam hospedados. Mas o que é que pode explicar esta autêntica olimpíada de vandalismo e de destruição? Existem várias razões, mas talvez a mais importante seja a ausência de uma capacidade que os clássicos chamavam de temperança (do latim temperantia), mais recentemente designada por autocontrolo e que faz parte da “Inteligência emocional”.
Quando não se possui autocontrolo são transferidos para o comportamento um conjunto de impulsos mais primitivos, entre os quais se encontram a busca do prazer imediato e a violência. Nestas idades o córtex pré-frontal ainda não atingiu a maturidade necessária para controlar de forma adequada os impulsos e as emoções provenientes da ativação de outra estrutura nervosa chamada amígdala e que integra o sistema límbico. Mas este aspeto não serve por si só para tornar inimputáveis os jovens, nem tão-pouco para justificar o seu comportamento, serve apenas para reforçar a necessidade de se defender uma educação com uma componente normativa, de modo a serem transmitidas regras e um sentido de responsabilidade.
Neste contexto, é totalmente incompreensível que se organize uma viagem de finalistas com o “bar aberto”, possibilitando o consumo de bebidas alcoólicas a menores de forma totalmente desregrada. Ora, nestas idades é o mesmo que dizer “podes beber até caíres para o lado”, e muitas vezes caem mesmo para o lado sem darem por isso. Quando se bebe álcool o objetivo é fazê-lo de forma moderada, facilitando o convívio social, e não propriamente beber até atingir o coma alcoólico, como infelizmente acontece cada vez mais nestas idades.
Se o autodomínio é uma virtude, há muitos jovens que não conseguem desenvolver esta capacidade e levam esta limitação para a vida adulta, tornando-se pessoas imaturas, escravos dos próprios desejos, com grandes dificuldades de adaptação e com poucas probabilidades de sucesso na sua vida familiar, social e profissional.
Nas últimas décadas houve uma tendência para se implementar modelos educativos experimentais teóricos, como uma vertente demasiado desresponsabilizadora, totalmente dissociados da realidade psicobiológica humana. Os resultados estão à vista: casos crescentes de indisciplina, desautorização da figura do professor e uma desvalorização do ensino. A sociedade não melhorou, e este modelo acaba por contribuir para que muitos jovens perpetuem a sua adolescência na idade adulta, através de uma atitude perante a vida irrealista, governada pelos desejos, repleta de direitos e desprovida de deveres.
Talvez por isso, as expulsões de alunos das salas de aula, por razões disciplinares, continuem a ser demasiado frequentes nalgumas escolas. Há dias escutei um relato de uma professora que tinha expulso 15 dos 30 alunos da turma por indisciplina. Percebe-se que há um ambiente difícil. Estes casos fazem da atividade docente um exercício insuportável de paciência, comprometem a saúde psíquica dos professores, e originam uma tensão constante que nem o melhor dos ansiolíticos consegue atenuar. Estas situações de indisciplina revelam comportamentos antissociais que — embora num modelo de menor escala, e sem o efeito potenciador do álcool e das drogas —, acabam por replicar a situação de expulsão dos finalistas em Torremolinos.
Muitos pais têm perdido a autoridade sobre os seus filhos, e com frequência capitulam quando é necessário impor limites ou aplicar castigos perante comportamentos desviantes. Ouço-os dizer, num tom resignado, “agora é tudo assim”, “todos os amigos consomem álcool e drogas”, etc. Porém os limites e as repreensões também têm uma função pedagógica, ajudam a estruturar a personalidade, preparando os adolescentes para a vida adulta, já que na vida real todos nós somos confrontados com limites e consequências quando desrespeitamos determinadas regras e obrigações.
Os atos de vandalismo ocorridos em Espanha, cometidos provavelmente por um número restrito de jovens, acabaram por dar uma péssima imagem dos colegas, humilharam os pais e desprestigiaram o país. Afinal, o autocontrolo é uma virtude humana que deve ser ensinada e aprendida. Como disse Benjamin Franklin “A fúria tem sempre uma razão, mas raramente uma boa razão”.
*Médico Psiquiatra

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