domingo, 18 de janeiro de 2009

Desde Abril de 2007 que temos tido em horário nobre a oportunidade de ver Conta-me como foi, série de ficção produzida pela RTP (o canal estatal) e que tem como objectivo, de acordo com artigo na Wikipédia, retratar, em forma de ficção, a vida e o país desde 1968 mas sem espírito saudosista, sem abordagens moralistas, sem juízos de valor, sem tomar partido por nenhum lado da história, sem aspirações documentalistas.

Lê-se no artigo citado que não há espírito saudosista. No entanto, e particularmente nos últimos tempos em que cada vez se ouve falar mais na crise económica e nos seus efeitos, sempre que começa a série, vem-me logo à memória isto. A acção do Conta-me como foi anda à volta das peripécias vivenciadas por uma família. E eu só me lembro de outras conversas do tipo.

Fará sentido? Ou será puro devaneio?
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5 comentários:

Alien8 disse...

Faz sentido, sim, Rosalina.
Bem te percebo.

Um beijo.

Rosalina Simão Nunes disse...

Ainda bem que não sou a única a fazer estas ligações, alien.

bettips disse...

Olha Rosalina, agora que "te recuperei". Vou-te contar um segredo... Quando foi da ideia da série, uma das protagonistas que conheço, pediu-me "coisas" minhas para "se retratar" naquele tempo, álbuns, pensamentos, modos de vestir, de falar, de ser... O meu álbum e muitas palavras viajaram até Lisboa. Faz sentido, sentir na pele o que se vê. Só que era ainda menos poético, as relações eram normalmente muito mais agrestes entre as pessoas, o cinzento e a estupidez imposta de fora de nós... Bjinho

Rosalina Simão Nunes disse...

bettips, seria sempre interessante uma série poder ver uma série que retratasse a época em que os portugueses viveram em ditadura.

Mas uma série desse tipo tem sempre um fim, isto se lhe quer dar alguma credibilidade histórica.

Agora, e curiosamente, no episódio de hoje que estou a ver neste preciso momento, as personagens só falam de falta de dinheiro e do frio que está, segundo uma das personagens, o mais frio de há 20 anos.

Pois, eu acho coincidência a mais.

E se a intenção é que as pessoas confundam a realidade com a ficção, tal como fazem com as novelas brasileiras e agora já as portugueses, procurando que as pessoas não contestem e se acomodem à vida de miséria que têm, o efeito não será esse.

Para mim e muitos da minha geração que, apesar de termos nascido antes da democracia, não soubemos nunca o que era viver sem ela, também sentimos, pelo testemunho dos nossos familiares que a vida era dura, cinzenta.

Por isso, é uma vergonha que o canal público por excelência ande a passar esta série no horário nobre de domingo.

E uma vergonha para a democracia.

bettips disse...

Não concordo: as coisas foram "muito piores" do que são retratadas, até acho adocicadas algumas das personagens. A produção da série esteve parada por muito tempo, estava a "tornar-se incómoda"?? ... Esta é a 2ª série de 52 episódios. A 3ª série está agora a ser filmada. Entretanto, em Espanha donde veio a ideia original, vai muito adiantada (por ex. já deu a morte de Franco) e tem muita adesão do público. Posso garantir-te: os episódios são gravados muitos meses antes; é, assim, uma casualidade o tempo frio e a falta de dinheiro. Ou será a nossa triste sina, repetir a História do nosso descontentamento.
Por outro lado, sei que para os jovens de 20/30 anos é impensável que tudo fosse tão "tôsco" e isso estão a aprender/ver: aprender como era coersiva a não-liberdade elementar, o medo tacanho.
Nesta democracia "pintada" é impossível ser-se imparcial: repara por ex. que os episódios sobre a guerra colonial, do Joaquim Furtado, foram simplesmente interrompidos. Alguém explicou porquê? Nem sequer eram exaustivos mas apresentavam cenas reais que as pessoas nunca tinham visto. Incómodas. Olha, seria uma discussão académica, a nossa!
Bjinhos