domingo, 25 de novembro de 2007

Entrevista com Mário Soares
in DN



O primeiro-ministro Sócrates é uma pessoa que me surpreendeu muito positivamente. Quando entrou no Partido Socialista, jovem, era eu líder do partido. Pensei que ele fosse uma criatura do Guterres... Era a minha ideia, mas era uma ideia falsa. Estava errado. Ele não é uma criatura do Guterres. Ainda agora em Madrid disse isso ao Guterres. [Sócrates] é mesmo o anti-Guterres no sentido de que ele é um homem de extrema determinação e que sabe o que quer. Tem coragem para dizer as coisas e fazer frente às dificuldades. Nestes dois anos, parece que isto é uma coisa que toda a gente pode reconhecer de boa-fé, ele teve uma herança terrível. O País estava numa situação caótica e ele conseguiu endireitar as contas públicas, reduzir o défice. Algumas das reformas não se sabe bem o que é que vão dar, essa eu acho que é uma crítica legítima, mas que também releva uma qualidade de coragem grande. Ele abriu muitas frentes de luta ao mesmo tempo. Foram os funcionários públicos, foram os professores, foram os médicos e enfermeiros, foram os juízes, etc. Podia ter feito isso mais planificado.

(...)

Há muitas críticas, mesmo de sectores do Partido Socialista, que vão dizendo que esta acção governativa se faz muito à direita. Partilha de alguns aspectos desta crítica?

Eu não diria a coisa assim, diria a coisa de outra maneira.

Como?

É assim: eu acho que passados estes dois anos - ele [José Sócrates] tem mais quatro até às próximas eleições em 99 [Mário Soares engana-se pois quereria dizer mais dois anos, até 2009] -, deve ter grandes preocupações, a partir de agora, com o mundo do trabalho. Deve dialogar com o mundo do trabalho.

O senhor diz isso por causa do ciclo eleitoral?

Não, não digo por causa do ciclo eleitoral, digo por causa do País e porque me preocupam imenso as grandes desigualdades sociais. Para quem amou e ama a Revolução dos Cravos como eu, para quem sonhou com um Portugal diferente, é chocante ver como as desigualdades sociais se agravaram nos últimos tempos. Tem de se lutar contra isso para...

Agravaram-se porquê?

Agravaram-se porque houve uma vaga neoliberal.

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Eu nada percebo de política.
Não sei analisar objectivamente, porque me falta informação, aquilo que os políticos dizem, escrevem, mas tenho-me como alguém que até sabe ler e perceber. E, sinceramente, não entendo estas palavras.

Então, um homem de coragem política é aquele que faz frente às dificuldades, mas até podia tê-lo feito de forma mais planificada?!

É aquele que até tem tomado medidas, quase há três anos, governado o país neoliberalmente, mas que precisa de dialogar com o mundo do trabalho?!

Sr. Mário Soares, se as desigualdades sociais se agravaram nos últimos tempos, tal facto deve-se , exclusivamente, à actuação desse tal homem de coragem que parece defender, revelando, quiçá, alguma falta de coragem de dizer que afinal não há valentia, mas o reflexo de uma governação maioritária que não necessita de qualquer ousadia para governar.
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