Declara a Sra. Ministra da Educação a propósito dos resultados das Provas de Aferição:
"É com particular satisfação que registamos uma melhoria muito significativa nas provas de aferição, sobretudo na disciplina onde se pensa que há uma fatalidade [Matemática], mas não há fatalidade nenhuma", garantiu a titular da pasta da Educação, em conferência de imprensa.
Permita-me que a corrija, Sra. Ministra: mas não há fatalidade alguma.
Garanto-lhe que seja assim.
"É com particular satisfação que registamos uma melhoria muito significativa nas provas de aferição, sobretudo na disciplina onde se pensa que há uma fatalidade [Matemática], mas não há fatalidade nenhuma", garantiu a titular da pasta da Educação, em conferência de imprensa.
Permita-me que a corrija, Sra. Ministra: mas não há fatalidade alguma.
Garanto-lhe que seja assim.
9 comentários:
Rosalina,
Permite-me, com o devido respeito, que discorde da tua correcção. A dupla negativa é uma forma enfática frequentemente utilizada, sobretudo no discurso verbal, e creio que "não tem mal nenhum".
Mas o que importa é que o problema da Senhora Ministra não é bem esse... pois não??
Um beijo.
Claro que podes discordar, Alien.
Provavelmente, a maioria dos portugueses até achará que a minha correcção esteja incorrecta.
Este é daqueles erros que toda a gente dá, segura de que diz e escreve bem, sem consciência da falha.
Tal como acentuar esdruxulamente pudico ou rubrica, por exemplo, ou, ainda, dizer e escrever penso que é em vez de penso que seja.
Não é permitido, mas diz-se e escreve-se. Tal como não se pode andar a mais de 120Km nas auto-estradas e se anda, ou não se pode fumar em transportes públicos e o 1º fuma, alegando desconhecer a lei.
E se no caso dos meus alunos considero desculpável, na Ministra de Educação, não. :)
Rosalina,
"Este é daqueles erros que toda a gente dá, segura de que diz e escreve bem, sem consciência da falha.", escreveste.
Olha que talvez não seja assim... No meu caso, por exemplo, não há qualquer inconsciência, há uma opção por uma ou outra forma, consoante os casos. Ao que parece, ambas as construções são permitidas e podem encontrar-se em textos dos melhores autores portugueses. Para mim, a questão está longe de ser nova.
Dá uma vista de olhos a isto, se te apetecer.
Um beijo.
P:S.: Removi o comentário anterior por me ter enganado no "link".
Quando faço referência a toda a gente, alien, estou, obviamente, a generalizar. :)
A dupla negativa é uma questão que como dizes deve ser usada ou não consoante os casos. Eu evito usá-la. É claro que me leva a alterar a estrutura das frases e garantidamente também a uso, principalmente, quando falo.
Julgo, no entanto, que tenho (quase) sempre consciência disso. O que não se passa com a maioria dos falantes. Baseio-me em quê para fazer esta afirmação? Pela experiência do meu dia a dia. Claro que vale o que vale.
Quanto ao caso concreto da sra. ministra, mantenho a minha correcção.
Repara, numa oração com 5 palavras, a senhora usa 4 que têm carga negativa: mas (oposição), não, fatalidade e nenhuma. Num discurso que pretendia precisamente negar a ausência de aspectos negativos na disciplina de Matemática.
Claramente, o discurso podia ter sido melhor conseguido. ;)
Mas a política é a Senhora, não sou eu.
Rosalina,
Reli a frase da Srª. Ministra, e estou realmente de acordo contigo. Naquela frase, a dupla negativa soa mal, sobretudo porque é quádrupla :)
Já agora, como gosto bastante de conversar sobre estes casos da Língua Portuguesa, pergunto-te o que pensas do uso sistemático do pretérito imperfeito em vez do condicional, que tanto surpreende os brasileiros. Como, por exemplo, em "Dava-me jeito algum dinheiro", em vez de "Dar-me-ia...". Pior ainda: "Eu dava-lhe lições de Português.", que pode estar certo, se se referir ao passado ou, creio, errado (mas de uso frequente, e o costume é uma fonte de Direito, logo de regras...) se estiver expressa ou implícita uma condição.
Para cúmulo, a mesma expressão também é utilizada para significar "Eu era (seria:) capaz de lhe dar lições de Português.". "Eu dava-lhe uma tareia." = "Eu seria capaz de lhe dar uma tareia." (porque sou mais forte).
Responde se te apetecer :)
Um beijo.
hummmm... Parece-me, Alien, que nos casos que apresentas, o uso do pretérito imperfeito ou do presente do condicional é irrelevante.
Creio que todas as situações que colocas pressupõem a existência de uma condição ou desejo / vontade. Nesses casos ambas as formas estarão correctas.
Claro que isso acontece fruto do uso que se tem feito da língua, mas julgo que actualmente já não se pode considerar erro.
O que está por detrás destas alterações é que merece de facto uma análise detalhada.
Sinceramente, ainda não tive tempo / oportunidade para aprofundar o estudo destas matérias, logo aquilo que aqui vou escrever é apenas fruto das análises pontuais que vou fazendo no meu dia-a-dia, quando preparo matérias e/ou estou a trabalhar com os miúdos ou até mesmo, quando leio os jornais, oiço a TV e as outras pessoas, claro.
E vou pegar de novo numa expressão do texto do post, supostamente dita pela Sra. Ministra.
"Sobretudo na disciplina onde se pensar que há uma fatalidade..." - Ora bem, de acordo com as normas e uma vez que a senhora está a fazer uma suposição fazendo-a depender de um verbo, chamemos-lhe declarativo, a forma verbal correcta, na oração dependente, deveria ser 'haja'. Isto é, deveria ter usado o presente do conjuntivo e não do indicativo: ...onde se pensar que há uma fatalidade...
E aqui entramos numa alteração que vai muito além das discussões, quanto a mim supérfluas, sobre a ortografia.
Enquanto que na ortografia as alterações são meramente físicas, de roupagem, sem que mexam com a nossa estrutura frásica, logo com a forma como estruturamos o pensamento, o facto de cada vez usarmos menos os modos verbais, seja o conjuntivo, imperativo ou condicional, já mexe com a forma como organizamos o nosso pensamento e mais com a nossa consciência do que pretendemos, de facto, quando abrimos a boca para falar.
Repara que hoje em dia, quase nunca se usa o imperativo. Provavelmente, estará aí uma das razões pelas quais os miúdos são tão irrequietos nas escolas e em casa.
Hoje dize-se:
Podem estar calados, querem fazer o favor de se calar e outras construções afins. Raramente se diz: Calem-se. E com ponto final, que era como as ordens deviam ser dadas. Por isso, como não se dá a ordem inicialmente, o assunto não é entendido e dá asneira. E quando, finalmente, pais e/ou professores decidem dá-la ( a ordem) já estão tão cansados, que em vez de dizerem: Calem-se. Exclamam: Calam-se!
E claro, é o caos.
Bem, não sei se consegui ir ao encontro da questão que levantaste. Mas agora continuava para aqui a escrever e isto já deve estar em forma de testamento. :p
E tenho Exames à espera.
É verdade. Sempre que quiseres, podes levantar estas questões. E também gosto de as discutir. ;)
Beijocas.
A 2º frase a bold está errada é: ...onde se pensa que haja uma fatalidade...
Rosalina,
Obrigado pela explicação, que vai ao encontro do que penso. Com o uso, ambas as formas estarão correctas. Concordo também quanto à questão da ortografia, que é pouco importante (mas não me levam com "acordos"....
Creio existir uma diferença entre o uso do indicativo em vez do conjuntivo, que se deverá talvez, no início, à tendência para facilitar/simplificar na linguagem verbal, e a não utilização do imperativo, que me cheira demasiado ao "politicamente correcto", se é que me entendes - e entendes, por certo:)
A propósito, "Calem-se." ou "Calem-se!", ou ambas? Ou "Calai-vos, águas do moínho! Ó Mar! Fala mais baixinho..." :))))
É um prazer "falar" contigo sobre estes assuntos, mas vou deixar-te com os Exames, que dão trabalho, sei-o bem...
Um beijo.
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