No dia 10 de junho, publiquei, no meu mural do Facebbok, com o seguinte comentário, a foto de cima:
Orgulhosamente, Professora!
Hoje, chegou-me, por mãos amigas, o texto que a seguir publico com a devida autorização do seu autor.
O orgulho é o mesmo.
« À VOLTA DO BULE DO CHÁ
Alguns
comentadores da nossa praça, nenhum deles insuspeito, diga-se em abono da
verdade, quiseram aproveitar o desmaio de Cavaco Silva, na Guarda, para, a
partir de um discurso aparentemente solidário com o cidadão momentaneamente
fragilizado, se atirarem a quem, naquele espaço público, protestava contra o
governo e as políticas que põem em causa o futuro de Portugal e destroçam a
vida de milhões de portugueses.
O que se
passou na sequência do desmaio, não quiseram esses comentadores saber. Não lhes
interessava reconhecer (embora alguns saibam) que os manifestantes estavam
muito longe do palanque onde discursava o PR, não havia som no local e a
visibilidade era reduzida dada a quantidade de gente presente e também devido à
segurança montada. Não lhes interessa reconhecer que, tal como passou em canais
televisivos, em direto, os manifestantes não se aperceberam do desmaio e, no
final, frisaram que o respeito pelo ser humano era algo inquestionável. A
nenhum dos comentadores interessou saber quando tinham sido recolhidas as
imagens em que manifestantes sorriam e se o faziam na sequência do desmaio ou
reagindo a provocações feitas por uns quantos quadros partidários e alguns
agentes à paisana que, notou-se, gostariam que a reação tivesse sido outra. Não
consta que algum desses comentadores tivesse tentado saber o que, realmente, se
passara, pois isso poderia pôr em causa (poria) o comentário pretendido.
Conhecendo-os
como conhecemos, o que deverá ter incomodado comentadores e dirigentes dos
partidos do governo (alguns fazendo o “dois em um”) foi mesmo o protesto e a
sua dimensão. Não foi o desmaio de Cavaco Silva, nem tão pouco a brincadeira de
alguns humoristas face à situação, pois a isso não reagiram… era a brincar. O
protesto, bom, esse era a sério.
Um ou outro
dos que comentaram lá foi dizendo que aquele dia também não era próprio para
protestos, embora sem acrescentar a razão. Que todos os dias são bons para os
governantes provocarem, com as suas políticas, mais pobreza – cortando salários,
pensões e prestações sociais –, mais desemprego, mais e maiores fragilizações
na Educação, na Saúde e em outras áreas sociais, isso parece incontestável.
Agora protestar contra essa governação é que eles gostariam que tivesse os dias
contados… e, se possível, fossem poucos.
Do alto da sua
arrogância, alguns dos “radio/television
man show” decidiram aproveitar o caso para dirigirem insultos ao
Secretário-geral da FENPROF que, acompanhando o Sindicato que coordena, esteve
no protesto. Desqualificado e mal-educado foram alguns dos mimos de quem, o que
gostaria mesmo era chamar-lhe “comuna” o que, em sua opinião, seria a mãe de
todos os insultos. Sendo verdade que a contenção verbal prevaleceu, pois
ficaria mal o recurso a linguagem própria dos fascistas, já a intenção não se
distanciou dos métodos daqueles: isolar quem se quer atingir, denegrir
socialmente e fragilizar, ainda que recorrendo a mentiras.
Prender, por
ser comunista e/ou sindicalista, para já, não é possível. Abril tem 40 anos,
mas tem sabido renovar-se. Sobram, então, as palavras. Entendia um dos
comentadores que, dominicalmente, debita a sua homilia, que teria faltado chá
ao Mário Nogueira em criança. É verdade, chá e outras coisas, que são todas as
que faziam a diferença entre o que faltava aos filhos de operários e o que
sobrava aos filhos de ministros do fascismo. Ambos os pais de cabeça levantada,
é verdade, embora uns olhando para ver quem os contestava, outros para
garantirem não estar a ser perseguidos pela pide. Mas não é essa diferença
entre classes, em que o chá em criança distinguirá os bons dos maus, que
confere a alguém um estatuto de casta superior. A democracia que, desde Abril de 74, Portugal vive tem um só lado e
nele estão todos, em pé de igualdade, tenham ou não crescido encostados a um
bule. »
Mário Nogueira
Cidadão, Professor e Sindicalista
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