o jantar
todos os anos era aquele aborrecimento. tentava sempre arranjar maneira de se esquivar àquele cansativo, enfadonho encontro, mas o joão não aceitava. vinha logo com a conversa de não ser conveniente aparecer sozinho. que os outros sócios iriam pensar que havia algum problema entre eles. e que depois, no escritório, começariam os comentários irónicos.
tão cansativo era ter de ir ao tal jantar como ouvir a argumentação do joão, por isso, nem insistia e lá se arranjava para o compromisso. afinal seria apenas e tão só outra noite.
maçadora, mas outra noite.
desta vez desconhecia o local. pelo menos teria a oportunidade de se ir distraindo com a decoração. e com tanta coisa para fazer. perda de tempo!
cedências numa relação que se mantinha equilibrada, ainda assim. abriu a janela do carro, já em movimento, e olhou de soslaio para o joão. sorriu: amava aquele homem.
chegados ao restaurante, foram recebidos numa ante sala onde estavam quase todos. distribuiu sorrisos, alguns beijos, e pequenas frases feitas trocadas...
entretanto, foram chamados para a sala de jantar.
a decoração era excelente. as cores discretas, quentes. a iluminação fantástica. sentou-se e não pôde deixar de sorrir. afinal até se estava a sentir confortável. começaram a ser servidos e, ao som dum piano distante, ouviam-se pequenas gargalhadas, sussurros de conversas...
o joão tocou nas suas mãos, num gesto terno e cúmplice.
a dada altura, discretamente, conseguiu conquistar algum silêncio, alheando-se das conversas dos outros, e olhou para o tecto...
os seus olhos ficaram cativos do candelabro. semicerrou-os e deixou-se embalar pelo som cada vez mais longínquo do piano...descia, agora, uma escadaria enorme. ao fundo, do lado esquerdo, uma porta: o princípio de um salão vazio de pessoas, onde existia somente o candelabro e alguém que a esperava à entrada.
deixou-se conduzir até ao centro e, em sintonia com a melodia que viajava por aquele espaço, os corpos deslizaram pelo salão harmoniosamente.
e, quando a música...tocaram-lhe no ombro. era o joão que a chamava. alguém queria saber qualquer coisa. respondeu e fechou, de novo, os olhos. mas o momento anterior terminara.
perdera-o.
10 comentários:
Depois de ver e ouvir no noticiário noticias que me deixaram com o estomago ás voltas, só mesmo um post belissimo como este para me sentir como se estivesse dentro dessa sala com esse maravilhoso candelabro.
A foto da Wind encaixa na perfeição, é magnifica.
Beijos e bons sonhos
tuché, oxalá as palavras e a "luz" tenham o poder de te fazer esquecer o que viste no noticiário.
olha, eu há algum tempo que deixei de "ver" notícias. prefiro lê-las ou ouvi-las apenas. são mais reais assim.
o texto foi motivado pela foto da wind.
bons sonhos?! ainda nem jantei.
[gargalhadas]
noite descansada.
Gostei: do texto,... da foto... do enredo. Infelizmente, pelo cansaço, já não estou em condições de fazer um comentário minimamente aceitável :D
Assim, resta-me desejar-te uma boa....mas mesmo... uma boa noite
bjs
Um texto lindíssimo, onde visualizamos tudo, sentimos e só tens de perder a preguiça e o medo de continuar, ou dar um fim às histórias:)
Já é a 2ª que deixas "pendurada", como esse candelabro que te inspirou e que a wind me segredou que te agradece;)
sabes, preguiça, creio que não se trata nem de preguiça, nem de medo.
são mesmo assim as minhas histórias: pequenos momentos contados.
diz à wind que eu é que agradeço. :p
esse comentário é perfeitamente aceitável, claudynius.
lindo texto :))
gosto muito destas descrições de momentos:)(e o que se perde...) quem dera saber descrevê-los como tu..
beijinhos
refinado, sabr? muito agradável ler isso. obrigada.
sabes, cristina, tenho alguns pequenos momentos destes escritos. gosto de os escrever. quando o faço perco-me no trabalho de construção da frase, na escolha das palavras, no 'arrumar' do texto. sempre gostei de fazer isto. encontrar a palavra certa para o gesto, o olhar, o cheiro...é um exercício mental que aprecio bastante. mas tem sido quase sempre um acto isolado. escrevo-os e guardo-os.
desde que ando por 'aqui' tenho publicado alguns e sempre com a sensação de que não fará sentido para os outros.
agradavelmente, faz. e nem imaginas como fico contente com essa partilha.
uma beijoca fofa.
Entonces deixa la preguiça e partilha con nosoutros, si?
lol
Enviar um comentário