quarta-feira, 6 de setembro de 2006

(gaivota, foto de Cristina Vieira)

gaivota - ave de sonhos, de voos, de liberdade...


...

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

("Pedra Filosofal" de António Gedeão)





12 comentários:

Anónimo disse...

Quero ser essa gaivota:))))
A letra/música é bela.
Mais palavras para quê?

MariaTuché disse...

Eu amo esta musica :))

Beijos

Rosalina Simão Nunes disse...

pois, olha, preguiça, também eu fiquei sem elas. as palavras.

Rosalina Simão Nunes disse...

então, tuché, amas 'coisas' belas. ;)

Anónimo disse...

Este poema e esta música, cantados por um Frank Sinatra, um Neil Diamond,etc, etc... teriam sido, estou certo, um êxito intemporal. Pena que tenha sido escrito e cantado à nossa dimensão.
Claro que isso em nada lhe retira a beleza poética,estética e musical.
Obrigado António Gedeão pela Letra, Manuel Freire pela musica, e Rosalina por nos teres trazido tudo isto à lembrança

bjs e um resto de Bom dia

Rosalina Simão Nunes disse...

tens razão, claudynius, não seria, certamente, o facto de ter tido maior projecção que perderia em beleza.

'ela'está lá. sempre. é intemporal.

Pêndulo disse...

Ouvir "Pedra Filosofal" com "bichinho alácre

Rosalina Simão Nunes disse...

pêndulo, estou com três dicionários no colo...ehehehhehehe...

e pelo que pude ver, existem as duas palavras:

- álacre, adj., sinónimo de alegre, vivo, esperto;

- alacre, subs., o m.q. lacre.

parece-me que no poema o sentido seja o do adjectivo.

o que achas?


*obrigada pela música. já estive a ouvir e, como sempre,...bela. tenho que aprender a pôr música nisto.

Pêndulo disse...

Parece-me ser "àlacre", não descortino sentido para "lacre".

Quanto à música: Havendo link é fácil. É só colocar [embed src="mms://audio.bl.uk/media/wildlife/chimp01.wma"height="27" width="80" autostart="true"]
no html substituindo [] por <>
Experimenta

Mais explicações amanhã

Rosalina Simão Nunes disse...

credo..., pêndulo!

acho que fico mesmo pelo silêncio.

essa linguagem deve fazer sentido, mas eu não a percebo. eu sou mesmo "básica".

ehehehehehhehe...

obrigada.

Cristina disse...

:)))))
também fiquei fascinada quando a vi a sobrevoar ali tão perto :)))

beijinho, obrigada

Rosalina Simão Nunes disse...

foi com muito gosto, cristina. e eu é que tenho de agradecer por teres captado o momento.