Ai de mim! não pode jamais a minha sorte
a outro mortal adaptar-se, e a mim
deixar-me sem culpa!
Fui eu, fui eu que te matei, ó desgraçada,
fui eu, esta é a verdade. Ai, ó meus servos,
levai-me sem demora, p'ra longe me levai,
a mim que não sou
mais do que nada.
Coro
Vantajosos são os teus conselhos, se é que na desgraça alguma vantagem pode haver. Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
Creonte
Sim! Sim!
Que surja p'ra mim
a sorte mais bela, o dia trazendo
derradeiro, e para mim supremo.
Que venha, sim, que venha e que eu não veja
o dia nunca mais!
Coro
Isso ao futuro pertence. Mas com os que aqui jazem algo há a fazer. O resto importa só àqueles que disso têm cuidado.
Creonte
Mas, pelo menos, todo o meu desejo o pus nesta oração.
Coro
Não, não implores ninguém; aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Creonte
Levai, sim, levai para longe este homem
tresloucado, que sem querer te matou, filho,
e a ti, também!
Ai de mim, desgraçado, não sei para qual
hei-de olhar, a quem apoiar-me, pois tudo
que tenho nas mãos está abalado; sobre mim
impende um futuro
que não se suporta.
(Creonte é levado para o palácio.)
Coro
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
Com os deuses não seja ímpio ninguém.
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
(in Antígona, Sófocles, INIC, 1984, vv. 1316-1353,
pp. 95-96, trad. de Maria Helena da Rocha Pereira)
_______________________________________deste excerto de Sófocles, séc. V A.C., destaco:
Quando o mal está iminente, quanto mais depressa, melhor.
...aos mortais não é dado libertar-se do destino que lhes incumbe.
Para ser feliz, bom-senso é mais que tudo.
porque os outros já tudo disseram, às vezes, é tão inútil insistir nas nossas palavras:
Dos insolentes palavras infladas
pagam a pena dos grandes castigos;
a ser sensatos os danos lhes ensinaram.
persiste, no entanto, a dúvida sobre o ensinamento.
2 comentários:
Vejo que ninguém comentou a Antígona. Assim, aproveito para me gabar.
Primeiro, fiz parte do Coro:
"Ó raios do céu, ó luz mais bela
em Tebas, a das sete portas, a resplandescer!
Brilhaste, enfim, ó farol dourado do dia
avançando pela corrente dirceia..."
(Disto ainda me lembro. Acho :)).
Depois passei a Tirésias. Uma chatice, estar de olhos fechados.
Finalmente, fui Hémon. Por essa altura, sabia a peça toda de cor. Pudera!
A Antígona do Sófocles, claro! Já nessa altura, em tradução da Prof. Dra. Maria Helena da Rocha Pereira.
Há quanto tempo!
Muito me diverti. E aprendi.
Agora, continuo a aprender, com este teu post. Muito interessante.
Boa semana :)
que memória, alien!
eu gosto de rever os clássicos. de vez em quando pego neles e passo uma tarde agradável. ou, então, por ver isto ou aquilo, lá vou à procura...
e tenho saudades das aulas. disso tenho saudades. muitas.
olha, e acho que vou acabar a noite a partilhar a discussão entre pai e filho. aprecio bastante esse momento.
boa semana para ti, também.
obrigada.
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