Diz Manuel António Pina, numa entrevista ao i: "Uma coisa que eu aprendi no jornalismo é a humildade. Se conhece
escritores, sabe que normalmente são tipos que acham que é fundamental
aquilo que escrevem. No caso do jornalismo, como sabemos que aquilo que
escrevemos no dia seguinte está a
embrulhar o peixe, não é assim. No jornalismo aprendi essa humildade
fundamental. Tenho de escrever, nas minhas crónicas, 1400 caracteres, o
morto à medida do caixão – agora tenho-lhes metido o IVA, como aumentou,
escrevo 1420. E meti-lhe o IVA baixo. Depois de escrevermos uma coisa, o
coordenador corta e altera o título. O jornalismo é um trabalho
colectivo. Isso dá-nos uma grande modéstia. O Luiz Pacheco dizia que
daqui a cem anos ninguém se lembra. Qual daqui a cem anos... Mesmo na
altura já ninguém se lembra. Os escritores têm muita dificuldade em
aceitar que tudo acaba por se esquecer. Tudo tende para o esquecimento.
Mas há mais relações, o jornalista aprende com o escritor o respeito
pelas palavras, sabendo que há palavras que se dão com as outras, e
outras não. Não calcula o tempo que demoro a escrever aquela merda com
1400 caracteres. Leio aquilo tantas vezes... Volto atrás e vou para a
frente. Só a trabalheira de arranjar assunto. Eu espontaneamente só
tenho opinião uma vez por ano, agora tenho de ter todos os dias porque
ganho a vida assim. Nunca leio o que escrevi no dia seguinte, porque se o
faço fico completamente frustrado."
Destaquei este excerto, pela importância que todos os dias dou à escrita, mas toda a entrevista deve ser lida. Vale a pena a lucidez. E a história contada a propósito de Sampaio é deliciosa! Claro que eu nunca daria àquela entrevista o título que lhe deu o jornalista. Mas eu não sou jornalista.
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